A regra do octeto explica as valências de muitos elementos e as estruturas de vários compostos, sobretudo os formados por elementos do Período 2 (especificamente o carbono, o nitrogênio, o oxigênio e o flúor). Porém, ela tem diversas exceções:

  • Uma molécula pode ter um número ímpar de elétrons, logo, a formação de octetos é numericamente impossível.
  • Os átomos de determinados elementos podem acomodar mais de oito elétrons em suas camadas de valência.
  • Um átomo pode formar compostos com octetos incompletos.

Os radicais

Algumas espécies têm número ímpar de elétrons de valência, o que significa que pelo menos um de seus átomos não pode ter um octeto. As espécies que têm elétrons com spins não emparelhados são chamadas de radicais. Dois exemplos são o radical metila, XX22CHX3\ce{^{.}CH3}, e o óxido nítrico, XX22N=O\ce{^{.}N=O}.

De modo geral, os radicais são muito reativos. Exceto casos especiais, a maior parte tem vida muito curta. O radical metila, CHX3\ce{CH3}, ocorre na chama durante a queima de hidrocarbonetos combustíveis. O elétron isolado é indicado por um ponto no átomo C em XX22CHX3\ce{^{.}CH3}. Os radicais são cruciais para as reações químicas que ocorrem na atmosfera superior, onde eles contribuem para a formação e decomposição do ozônio. Eles também desempenham um papel na nossa vida diária, muitas vezes destrutivo. Eles são responsáveis pelo ranço da comida e pela degradação de plásticos sob a luz solar. Os danos causados pelos radicais podem ser retardados por um aditivo chamado de antioxidante, que reage rapidamente com os radicais antes que eles possam agir. Acredita-se que o envelhecimento humano é devido parcialmente à ação de radicais e que antioxidantes, como as vitaminas C e E, podem retardar o processo. O óxido nítrico tem papel importante no organismo, como neurotransmissor e vasodilatador. Como é um radical, o NO\ce{NO} é muito reativo e pode ser eliminado em alguns poucos segundos. Como é pequena, a molécula de NO\ce{NO} consegue mover-se facilmente pelo corpo. Essas propriedades permitem ao NO\ce{NO} cumprir vários papéis, que incluem o controle da pressão sanguínea e o combate a infecções durante a resposta imune.

Um radical é uma espécie com um elétron desemparelhado. Um birradical tem dois elétrons desemparelhados no mesmo átomo ou em átomos diferentes.

As camadas de valência expandida

A regra do octeto diz que o compartilhamento de elétrons prossegue até oito elétrons preencherem a camada externa para atingir a configuração da camada de valência de um gás nobre ns2np6n \mathrm{s^2} n \mathrm{p^6}. Contudo, quando o átomo central na molécula tem orbitais d vazios com energia semelhante à dos orbitais de valência, é possível acomodar 10, 12 ou mais elétrons e adquirir uma camada de valência expandida. Esta expansão pode ocorrer de duas maneiras (às vezes de ambas):

  • O número de átomos ligados ao átomo central pode ultrapassar o valor permitido pela regra do octeto.
  • O número de átomos é igual ao permitido pela regra do octeto, mas algumas ligações simples são substituídas por ligações duplas.

Um composto que contém um átomo com mais átomos ligados a ele do que o permitido pela regra do octeto (a primeira possibilidade dada) é chamado de composto hipervalente, como na formação do PClX5\ce{PCl5}:

A hipervalência muitas vezes é associada com a covalência variável, isto é, a formação de compostos com diferentes números de átomos ligados, como no PClX3\ce{PCl3} e no PClX5\ce{PCl5}. A segunda possibilidade dada é mais comumente associada com a capacidade de escrever diferentes estruturas de Lewis para uma molécula, com diversos arranjos de pares eletrônicos, como nas estruturas do íon clorito, ClOX\ce{ClO^-}:

Somente os átomos do bloco p do Período 3 ou seguintes podem expandir a camada de valência. Os átomos desses elementos têm orbitais d\mathrm{d} vazios na camada de valência. Outro fator — possivelmente o mais importante — que determina se outros átomos, além dos permitidos pela regra do octeto, podem se ligar ao átomo central é o tamanho deste último. Um átomo de P\ce{P} é grande o suficiente para que até seis átomos de cloro se acomodem em torno dele. O PClX5\ce{PCl5} é um reagente comum de laboratório. Um átomo de N\ce{N}, porém, é muito pequeno e o NClX5\ce{NCl5} é desconhecido.

A valência variável do fósforo é um exemplo muito interessante. Ele reage diretamente com uma quantidade limitada de cloro para formar o tricloreto de fósforo, um líquido incolor e tóxico, segundo a reação: PX4(s)+6ClX2(g)4PClX3(l) \ce{ P4(s) + 6 Cl2(g) -> 4 PCl3(l) } O produto formado, PClX3\ce{PCl3}, obedece à regra do octeto:

Entretanto, quando o tricloreto de fósforo reage com excesso de cloro, produz-se o pentacloreto de fósforo, um sólido cristalino amarelo-claro, na reação: PClX3(l)+ClX2(g)PClX5(s) \ce{ PCl3(l) + Cl2(g) -> PCl5(s) } O pentacloreto de fósforo é um sólido iônico formado por cátions PClX4X+\ce{PCl4^+} e ânions PClX6X\ce{PCl6^-}, que em 160 °C\pu{160 \degree C} sublima a um gás formado por moléculas de PClX5\ce{PCl5}. As estruturas de Lewis dos íons poliatômicos são:

No ânion PClX6X\ce{PCl6^-}, o átomo P\ce{P} tem a camada de valência expandida para 12 elétrons fazendo uso de dois de seus orbitais 3d\mathrm{3d}. No PClX5\ce{PCl5}, o átomo \ce{} expande a camada de valência para 10 elétrons usando um de seus orbitais 3d\mathrm{3d}.

Exemplo 1F.2.1
Determinação da estrutura de Lewis de uma molécula com camada de valência expandida

Determine a estrutura de Lewis do SFX4\ce{SF4}.

Etapa 2. Escreva o arranjo dos átomos.
Etapa 3. Coloque um par de elétrons entre cada par de átomos ligados.
Etapa 4. Complete o octeto dos átomos de flúor. Coloque os dois elétrons adicionais no átomo de S\ce{S}.
Etapa 5. Represente cada par de elétrons ligados por uma linha.

Quando estruturas de ressonância diferentes são possíveis, algumas dando um octeto ao átomo central de um composto, outras mostrando a camada de valência expandida (como no íon clorito, ClOX\ce{ClO^-}), a estrutura de ressonância dominante é identificada avaliando as cargas formais dos átomos. A estrutura dominante e mais provável é a que tem as cargas formais mais baixas. Entretanto, ocorrem muitas exceções, e a seleção da melhor estrutura depende frequentemente de uma análise cuidadosa dos dados experimentais.

A expansão da camada de valência para mais de oito elétrons ocorre nos elementos do Período 3 e períodos seguintes. Estes elementos podem exibir covalência variável e ser hipervalentes. A carga formal ajuda a identificar a estrutura de ressonância dominante.

Os octetos incompletos

Alguns compostos são formados por átomos com um octeto incompleto. O boro é o principal exemplo. Uma das estruturas de Lewis do trifluoreto de boro, BFX3\ce{BF3}, um gás incolor, mostra que ele tem uma camada de valência com apenas seis elétrons:

Tudo indica que o átomo de boro completaria seu octeto compartilhando mais elétrons com o flúor porém o flúor tem energia de ionização tão alta que é pouco provável que ele possa existir com uma carga formal positiva. Evidências experimentais, como os comprimentos de ligação BF\ce{B-F} relativamente curtos, sugerem que a verdadeira estrutura do BFX3\ce{BF3} é um híbrido de ressonância dos dois tipos de estruturas de Lewis e que a estrutura com as ligações simples dá a maior contribuição.

Um átomo de boro ou de elementos semelhantes consegue completar seu octeto por meio de um processo interessante: outro átomo ou íon com um par isolado de elétrons pode formar uma ligação doando ambos os elétrons. Uma ligação na qual ambos os elétrons vêm de um dos átomos é chamada de ligação covalente coordenada. O ânion tetrafluoro-borato, BFX4X\ce{BF4^-}, por exemplo, forma-se quando o trifluoreto de boro passa sobre um fluoreto de metal:

Observe que ambos os elétrons ligantes são fornecidos pelo íon fluoreto. Outro exemplo de ligação covalente coordenada é a que se forma quando o trifluoreto de boro reage com amônia: BFX3(g)+NHX3(g)NHX3BFX3(s) \ce{ BF3(g) + NH3(g) -> NH3BF3(s) } A estrutura de Lewis do produto, um sólido molecular branco, é:

Nessa reação, o par isolado do átomo de nitrogênio da amônia, NHX3\ce{NH3}, completa o octeto do boro em BFX3\ce{BF3} pela formação de uma ligação covalente coordenada.

Outra maneira de gerar ligações covalentes coordenadas para completar um octeto é mediante a formação de dímeros (pares de moléculas unidas). O cloreto de alumínio é um sólido branco volátil que sublima em 180 °C\pu{180 \degree C} para dar um gás formado por moléculas de AlX2ClX6\ce{Al2Cl6}. Essas moléculas sobrevivem como gás até cerca de 200 °C\pu{200 \degree C} e somente então se separam em moléculas de AlClX3\ce{AlCl3}. As moléculas de AlX2ClX6\ce{Al2Cl6} existem porque um átomo de Cl\ce{Cl} de uma molécula de AlClX3\ce{AlCl3} usa um de seus pares isolados para formar uma ligação covalente coordenada com o átomo de Al\ce{Al} da molécula de AlClX3\ce{AlCl3} vizinha:

Este arranjo é possível no cloreto de alumínio, mas não no tricloreto de boro, porque o raio atômico do Al\ce{Al} é maior do que o do B\ce{B}. Além disso, o átomo de Cl\ce{Cl} pode se aproximar do átomo de Al\ce{Al} a ponto de formar uma ligação tipo ponte.

Os compostos de boro e alumínio podem ter estruturas de Lewis incomuns, nas quais o boro e o alumínio têm octetos incompletos ou os átomos de halogênio agem como pontes.