Muitos dos gases que conhecemos no dia a dia, e nos laboratórios de química, são misturas. A atmosfera, por exemplo, é uma mistura de nitrogênio, oxigênio, argônio, dióxido de carbono e muitos outros gases (Tab. 2C.2.1). Muitos anestésicos gasosos são misturas cuidadosamente controladas. A descrição de um gás ideal precisa ser estendida para as misturas de gases.
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Em pressões baixas, todos os gases respondem da mesma maneira a mudanças de pressão, volume e temperatura. Por isso, nos cálculos comuns sobre as propriedades físicas dos gases, não é essencial que todas as moléculas de uma amostra sejam iguais:
John Dalton foi o primeiro a mostrar como calcular a pressão de uma mistura de gases. Para entender seu raciocínio, imagine determinada quantidade de oxigênio em um recipiente na pressão de . O oxigênio é, então, evacuado. Depois disso, uma quantidade de gás nitrogênio suficiente para chegar à pressão de é introduzida no recipiente, na mesma temperatura. Dalton queria saber qual seria a pressão total se as mesmas quantidades dos dois gases estivessem simultaneamente no recipiente. Ele fez algumas medidas pouco precisas e concluiu que a pressão total exercida pelos dois gases no mesmo recipiente era , a soma das pressões individuais.
Dalton descreveu suas observações em termos do que chamou de pressão parcial de cada gás, isto é, a pressão que o gás exerceria se somente ele ocupasse o recipiente. Em nosso exemplo, as pressões parciais de oxigênio e nitrogênio na mistura são e , respectivamente, porque essas são as pressões que os gases exercem quando cada um está sozinho no recipiente. Dalton resumiu suas observações na lei das pressões parciais: A pressão total de uma mistura de gases é a soma das pressões parciais de seus componentes.
Se escrevemos as pressões parciais dos gases como e a pressão total da mistura como , então a lei de Dalton pode ser escrita como: A lei das pressões parciais só é exata para gases de comportamento ideal, mas é uma boa aproximação para quase todos os gases em condições normais.
A pressão total de um gás é o resultado do choque das moléculas contra as paredes do recipiente. Os choques ocorrem com todas as moléculas da mistura. As moléculas do gás colidem com as paredes, assim como as do gás . Mas se essas colisões são independentes umas das outras, então a pressão resultante final é a soma das pressões individuais, como diz a lei de Dalton.
As pressões parciais servem para descrever a composição de um gás úmido. Por exemplo, a pressão parcial do ar úmido em seus pulmões é: Em um recipiente fechado, que é uma boa aproximação para um pulmão, a água se vaporiza até que sua pressão parcial alcance certo valor, chamado de pressão de vapor. A pressão parcial da água na temperatura normal do corpo é . Portanto, a pressão parcial do ar em seus pulmões é: Em um dia típico, a pressão total ao nível do mar é . Logo, a pressão nos seus pulmões devida a todos os gases, exceto o vapor de água, é .
O gás óxido nitroso, , gerado na decomposição térmica do nitrato de amônio, foi coletado sobre água. O gás úmido ocupou em , quando a pressão era .
A pressão de vapor da água é em .
De
A mesma quantidade de gás seco é coletada sob a mesma temperatura.
De , para os mesmos e logo,
O ar úmido é mais denso ou menos denso do que o ar seco nas mesmas condições?
Um modo útil de expressar a relação entre a pressão total de uma mistura e as pressões parciais de seus componentes é usar a fração molar, , de cada componente , isto é, a fração do número total de mols de moléculas da amostra. Se a quantidade total de moléculas de gás presentes é e a quantidade de moléculas de cada gás , , etc. presente é , , e assim sucessivamente, a fração molar é: O mesmo acontece com as frações molares dos demais componentes. Em uma mistura binária dos gases e Quando , a mistura é de puro e, quando , de puro. Quando , metade das moléculas é do gás e metade do gás . Estas definições e a lei dos gases ideais podem ser usadas para expressar a pressão parcial de um gás em termos de sua fração molar em uma mistura.
Para expressar a relação entre a pressão parcial de um gás em uma mistura e sua fração molar, utilize a lei dos gases ideais para expressar a pressão parcial, , do gás em termos da quantidade de moléculas de presentes, , do volume, , ocupado pela mistura e da temperatura, : Como (em que é a quantidade total de todos os gases) e ,
O resultado é em que é a pressão total e é a fração molar de na mistura.
Um fator importante mas sutil é que, enquanto Dalton definiu pressão parcial como a pressão que um gás exerceria sozinho no interior de um recipiente, a abordagem moderna consiste em usar a equação como definição da pressão parcial de gases ideais e reais. Por exemplo, para uma mistura binária de qualquer gás,
Uma amostra de de ar seco compõe-se quase completamente de de nitrogênio e de oxigênio. A pressão total é
Calcule as pressões parciais de nitrogênio e oxigênio.
De
De
De
A pressão parcial de um gás é a pressão que ele exerceria se ocupasse sozinho o recipiente. A pressão total de uma mistura de gases é a soma das pressões parciais de seus componentes. A pressão parcial de um gás está relacionada à pressão total pela fração molar: .
Muitas reações químicas têm gases como reagentes ou produtos. Conhecer a lei dos gases ideais permite acompanhar as quantidades de gás produzidas ou consumidas ao monitorar sua temperatura, sua pressão e seu volume. Esses cálculos podem ser usados independentemente de o gás ser um componente de uma mistura gasosa ou o único gás no recipiente.
Suponha que você precise conhecer o volume de dióxido de carbono produzido quando um combustível queima ou o volume de oxigênio necessário para reagir com uma determinada massa de hemoglobina nos glóbulos vermelhos do sangue. Para responder a esse tipo de pergunta, você pode combinar os cálculos de mol a mol com a conversão de mols de moléculas de gás ao volume que elas ocupam.
O superóxido de potássio, , pode ser usado como purificador de ar, porque esse composto reage com o dióxido de carbono e libera oxigênio
Calcule a massa de necessária para a obtenção de de oxigênio em CNTP.
O volume molar em CNTP é
De
Quando líquidos ou sólidos reagem para formar um gás, o volume pode aumentar de forma considerável. Os volumes molares dos gases estão próximos de nas condições ambiente, ao passo que os líquidos e os sólidos só ocupam algumas dezenas de mililitros por mol. O volume molar da água líquida, por exemplo, é somente a . Em outras palavras, de moléculas de gás em e 1 atm ocupa um volume aproximadamente mil vezes maior do que de moléculas de um líquido ou sólido típico.
O aumento do volume durante a formação de produtos gasosos em uma reação química é ainda maior se várias moléculas de gás são produzidas por molécula de reagente, como no caso da formação de e a partir de um combustível sólido. A azida de chumbo(II), , um detonador para explosivos, libera um volume grande de gás nitrogênio quando sofre um golpe mecânico, produzindo a reação: Uma explosão do mesmo tipo, com azida de sódio, , é usada nos airbags de automóveis. A liberação explosiva de nitrogênio é detonada eletricamente quando o veículo desacelera abruptamente durante uma colisão.
O volume molar (na temperatura e pressão especificadas) é usado para converter a quantidade de um reagente ou produto de uma reação química em um volume de gás.
Como o volume é proporcional à quantidade, os cálculos estequiométricos podem ser feitos diretamente com o volume quando os reagentes e produtos estão nas mesmas condições de temperatura e pressão.
Um volume de oxigênio e um volume de ácido sulfídrico, ambos nas mesmas condições de temperatura e pressão e totalizando , são misturados. Ocorre a reação: Após a reação completa, os produtos da reação, quando nas condições iniciais de pressão e temperatura, ocupam um volume de .
Calcule volume inicial de ácido sulfídrico.
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reação | |||
final |
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De
Em um cálculo volume a volume, elabore uma tabela de reação dos volumes, aplicando relação estequiométrica para obter a quantidade desejada.
Assim como nas predições volume a volume, como a pressão também é proporcional à quantidade, os cálculos estequiométricos podem ser feitos diretamente com a pressão quando os reagentes e produtos estão no mesmo volume e na mesma temperatura.
O dióxido de nitrogênio, , sofre decomposição quando aquecido, formando óxido nítrico, , e oxigênio: Um cilindro contendo de e de argônio, um gás inerte, é aquecido e parte do se decompõe. A pressão final no cilindro é .
Calcule a fração de dióxido de nitrogênio que reagiu.
início | |||
reação | |||
final |
De
De
De
Nos cálculos de pressão a pressão, é importante lembrar de considerar a contribuição de gases inertes à reação na pressão total.
Em um cálculo pressão a pressão, elabore uma tabela de reação das pressões, aplicando relação estequiométrica para obter a quantidade desejada.