Os ácidos e as bases são muito importantes no meio ambiente, em nosso organismo e em muitos outros sistemas. No meio ambiente, a chuva ácida que cai na superfície das águas de lagos e rios pode fazer estas se tornarem ácidas. Muitos lagos, porém, não apresentam problemas com a acidificação por apresentarem rochas ricas em carbonatos, que reagem com os compostos responsáveis pela chuva ácida. A reação entre um ácido e uma base é denominada reação de neutralização, e o composto iônico produzido na reação é chamado de sal.

A neutralização

A forma geral de uma reação de neutralização de um ácido forte e um hidróxido de metal que gera um íon hidróxido, uma base forte, em água, é aˊcido+hidroˊxido de metalsal+aˊgua \ce{ \text{ácido} + \text{hidróxido de metal} -> \text{sal} + \text{água} } O nome sal vem do sal comum de cozinha, cloreto de sódio, o produto iônico da reação entre o ácido clorídrico e o hidróxido de sódio: HCl(aq)+NaOH(aq)NaCl(aq)+HX2O(l) \ce{ HCl(aq) + NaOH(aq) -> NaCl(aq) + H2O(l) } Na reação de neutralização entre um ácido e um hidróxido de metal, o cátion do sal vem do hidróxido de metal, como o NaX+\ce{Na^+} do NaOH\ce{NaOH}, e o ânion é fornecido pelo ácido, como o ClX\ce{Cl^-} do HCl\ce{HCl}. Outro exemplo é a reação entre ácido nítrico e hidróxido de bário: 2HNOX3(aq)+Ba(OH)X2(aq)Ba(NOX3)X2(aq)+2HX2O(l) \ce{ 2 HNO3(aq) + Ba(OH)2(aq) -> Ba(NO3)2(aq) + 2 H2O(l) } O nitrato de bário permanece em solução como íons BaX2+\ce{Ba^{2+}} e NOX3X\ce{NO3^-}.

A carga química líquida de uma reação de neutralização fica mais clara quando se escreve sua equação iônica simplificada (Tópico 3E). Por exemplo, a equação iônica completa da reação de neutralização entre o ácido nítrico e o hidróxido de bário em água é 2HX+(aq)+2NOX3X(aq)+BaX2+(aq)+2OHX(aq)BaX2+(aq)+2NOX3X(aq)+2HX2O(l) \begin{split} \ce{ 2 H^+(aq) + 2 NO3^-(aq) + Ba^{2+}(aq) + 2 OH^-(aq) \\-> Ba^{2+}(aq) + 2 NO3^-(aq) + 2 H2O(l) } \end{split} Os íons comuns aos dois lados se cancelam, 2HX+(aq)+2NOX3X(aq)+BaX2+(aq)+2OHX(aq)BaX2+(aq)+NOX3X(aq)+2HX2O(l) \begin{split} \ce{ 2 H^+(aq) + \cancel{\ce{2 NO3^-(aq)}} + \cancel{\ce{Ba^{2+}(aq)}} + 2 OH^-(aq) \\-> \cancel{\ce{Ba^{2+}(aq)}} + \cancel{\ce{NO3^-(aq)}} + 2 H2O(l) } \end{split} e a reação iônica simplificada é: HX+(aq)+OHX(aq)HX2O(l) \ce{ H^+(aq) + OH^-(aq) -> H2O(l) } O mesmo resultado é obtido para qualquer reação de neutralização entre um ácido e uma base fortes em água: a água é formada a partir dos íons hidrogênio e hidróxido.

Quando se escreve a equação iônica simplificada da neutralização de um ácido fraco ou de uma base fraca, usa-se a forma molecular do ácido ou base fracos porque as moléculas intactas do ácido são a espécie dominante em solução. Por exemplo, a equação iônica simplificada da reação entre o ácido fraco HCN\ce{HCN} e a base forte NaOH\ce{NaOH} em água é escrita como HCN(aq)+OHX(aq)HX2O(l)+CNX(aq) \ce{ HCN(aq) + OH^-(aq) -> H2O(l) + CN^-(aq) } De forma semelhante, a equação iônica simplificada da reação da base fraca amônia com o ácido forte HCl\ce{HCl} é NHX3(aq)+HX+(aq)NHX4X+(aq) \ce{ NH3(aq) + H^+(aq) -> NH4^+(aq) }

Em uma reação de neutralização em água, um ácido reage com uma base para produzir um sal.

A volumetria de neutralização

Em uma titulação ácido-base, o analito é uma solução de uma base, e o titulante, a solução de um ácido, ou vice-versa. Um indicador, um corante solúvel em água, ajuda a detectar o ponto estequiométrico, isto é, a situação em que o volume de titulante adicionado é exatamente igual ao requerido pela relação estequiométrica entre titulante e analito. Por exemplo, se ácido clorídrico contendo algumas gotas do indicador fenolftaleína, In\ce{In}, está sendo titulado, a solução é inicialmente incolor. Após o ponto estequiométrico, quando ocorre excesso de base, a solução do frasco fica básica e o indicador se torna cor-de-rosa: HIn(aq)+OHX(aq)InX(aq)rosa \ce{ HIn(aq) + OH^-(aq) -> $\underset{\color{pink}\text{rosa}}{\ce{In^-(aq)}}$ } A mudança de cor do indicador é repentina e, então, é fácil detectar o ponto estequiométrico.

Exemplo 2F.3.1
Cálculo da concentração por titulação ácido-base

Uma alíquota de 25 mL\pu{25 mL} de uma solução de ácido oxálico, HX2CX2OX4\ce{H2C2O4}, foi titulada com 40 mL\pu{40 mL} de uma solução 0,1 molL1\pu{0,1 mol.L-1} de NaOH\ce{NaOH}.

Calcule a concentração de ácido oxálico na solução.

Etapa 2. Escreva a equação da reação ácido base.

HX2CX2OX4(aq)+2NaOH(aq)NaX2CX2OX4(aq)+2HX2O(l) \ce{ H2C2O4(aq) + 2 NaOH(aq) -> Na2C2O4(aq) + 2 H2O(l) }

Etapa 3. Calcule a quantidade adicionada de NaOH\ce{NaOH}.

nNaOH=(0,1 molL)×(40 mL)=4 mmol n_{\ce{NaOH}} = (\pu{0,1 mol//L}) \times (\pu{40 mL}) = \pu{4 mmol}

Etapa 4. Use a relação estequiométrica para converter a quantidade de NaOH\ce{NaOH} na quantidade de HX2CX2OX4\ce{H2C2O4}.

nHX2CX2OX4=12×4 mmol=2 mmol n_{\ce{H2C2O4}} = \dfrac{1}{2} \times \pu{4 mmol} = \pu{2 mmol}

Etapa 5. Calcule a concentração de HX2CX2OX4\ce{H2C2O4} em solução.

De c=n/Vc = n/V cHX2CX2OX4=2 mmol25 mL=0,08 molL1 c_{\ce{H2C2O4}} = \dfrac{ \pu{2 mmol} }{ \pu{25 mL} } = \fancyboxed{ \pu{0,08 mol.L-1} }

A técnica de retrotitulação (Tópico 3E) também é comumente empregada em titulações ácido-base.

Exemplo 2F.3.2
Cálculo de concentração por titulação ácido-base com retrotitulação

O nitrogênio em uma amostra de 10 g\pu{10 g} de farinha de trigo foi integralmente convertido em amônia pela adição de uma base concentrada após digestão com HX2SOX4\ce{H2SO4}. A amônia foi coletada em 30 mL\pu{30 mL} de HCl\ce{HCl} 0,4 molL1\pu{0,4 mol.L-1}. O excesso de HCl\ce{HCl} foi retrotitulado com 5 mL\pu{5 mL} de hidróxido de cálcio, Ca(OH)X2\ce{Ca(OH)2}, 0,2 molL1\pu{0,2 mol.L-1}.

Calcule a fração mássica de nitrogênio na farinha.

Etapa 2. Escreva as equações das reações ácido base.

NHX3(g)+HCl(aq)NHX4Cl(aq)2HCl(aq)+Ca(OH)X2(aq)CaClX2(aq)+2HX2O(l) \begin{aligned} \ce{ NH3(g) + HCl(aq) &-> NH4Cl(aq) } \\ \ce{ 2 HCl(aq) + Ca(OH)2(aq) &-> CaCl2(aq) + 2 H2O(l) } \end{aligned}

Etapa 3. Calcule a quantidade adicionada de HCl\ce{HCl} e Ca(OH)X2\ce{Ca(OH)2}.

De n=cVn = cV nHCl=(0,4 molL)×(30 mL)=12 mmolnCa(OH)X2=(0,2 molL)×(5 mL)=1 mmol \begin{aligned} n_{\ce{HCl}} &= (\pu{0,4 mol//L}) \times (\pu{30 mL}) = \pu{12 mmol} \\ n_{\ce{Ca(OH)2}} &= (\pu{0,2 mol//L}) \times (\pu{5 mL}) = \pu{1 mmol} \\ \end{aligned}

Etapa 4. Use as relações estequiométricas para converter a quantidade de HCl\ce{HCl} nas quantidades de NHX3\ce{NH3} e Ca(OH)X2\ce{Ca(OH)2}.

nHCl=nNHX3+2nCa(OH)X2 n_{\ce{HCl}} = n_{\ce{NH3}} + 2 n_{\ce{Ca(OH)2}} logo, nNHX3=12 mmol2×1 mmol=10 mmol n_{\ce{NH3}} = \pu{12 mmol} - 2\times \pu{1 mmol} = \pu{10 mmol}

Etapa 5. Converta a quantidade de NHX3\ce{NH3} na quantidade de N\ce{N}.

Como cada molécula de NHX3\ce{NH3} contém um átomo de N\ce{N} nN=10 mmol n_{\ce{N}} = \pu{10 mmol}

Etapa 6. Converta a quantidade de N\ce{N} em massa.

De m=nMm = nM mN=(10 mmol)×(14 gmol)=140 mg m_{\ce{N}} = (\pu{10 mmol}) \times (\pu{14 g//mol}) = \pu{140 mg}

Etapa 7. Calcule a fração mássica de N\ce{N} na amostra.

De fN=mN/mf_{\ce{N}} = m_{\ce{N}}/m fN=140 mg10 g=1,4% f_{\ce{N}} = \dfrac{ \pu{140 mg} }{ \pu{10 g} } = \fancyboxed{ \pu{1,4}\% }

A relação estequiométrica entre as espécies de analito e titulante, junto com a molaridade do titulante, é usada nas titulações para determinar a molaridade do analito.