Uma substância solúvel dissolve-se em quantidade significativa em um determinado solvente. De modo geral, a menção da solubilidade sem indicação de um solvente significa solúvel em água. Uma substância insolúvel não se dissolve significativamente em um solvente especificado. Considera-se, normalmente, uma substância insolúvel quando ela não se dissolve mais do que cerca de 0,1 molL1\pu{0,1 mol.L-1}. A menos que seja especificado o contrário, o termo insolúvel significa insolúvel em água. O carbonato de cálcio, CaCOX3\ce{CaCO3}, por exemplo, que forma a pedra calcária e a pedra giz, dissolve-se para formar uma solução que contém somente 0,01 gL1\pu{0,01 g.L-1} (que corresponde a 1104 molL1\pu{1e-4 mol.L-1}) e é considerado insolúvel. Essa insolubilidade é importante para o meio ambiente: morros e construções de pedras calcárias não são significativamente desgastados pela chuva.

Os eletrólitos

Um soluto pode existir como íon ou como molécula. Você pode identificar a natureza do soluto descobrindo se a solução conduz uma corrente elétrica. Como a corrente é um fluxo de cargas, somente soluções que contêm íons conduzem eletricidade. Existe uma concentração muito pequena de íons na água pura (cerca de 1107 molL1\pu{1e-7 mol.L-1}) que não permite a condução significativa de eletricidade.

Um eletrólito é uma substância que conduz eletricidade mediante a migração de íons. As soluções de sólidos iônicos são eletrólitos porque os íons ficam livres para se mover após a dissolução. O termo solução eletrolítica é comumente utilizado para enfatizar que o meio é de fato uma solução. Alguns compostos, como os ácidos, formam íons quando se dissolvem e, por isso, produzem uma solução eletrolítica, ainda que não estejam presentes íons antes da dissolução. Por exemplo, o cloreto de hidrogênio é um gás formado por moléculas de HCl\ce{HCl}, mas, ao dissolver em água, reage com ela, formando o ácido clorídrico. Esta solução é formada por íons hidrogênio, HX+\ce{H+}, e íons cloro, ClX\ce{Cl-}.

Um não eletrólito é uma substância que não conduz eletricidade, mesmo em solução. Uma solução não eletrolítica é aquela que, devido à ausência de íons, não conduz eletricidade. Soluções de acetona e do açúcar ribose em água são soluções não eletrolíticas. Exceto pelos ácidos, a maior parte dos compostos orgânicos que se dissolvem em água forma soluções não eletrolíticas. Se você pudesse ver as moléculas de uma solução não eletrolítica, constataria as moléculas de soluto intactas e dispersas entre as moléculas de solvente.

Um eletrólito forte é uma substância que está presente quase totalmente na forma de íons em solução. Três tipos de solutos são eletrólitos fortes: ácidos fortes e bases fortes e compostos iônicos solúveis. O ácido clorídrico é um eletrólito forte, assim como o hidróxido de sódio e o cloreto de sódio. Um eletrólito fraco é uma substância incompletamente ionizada em solução. Em outras palavras, a maior parte das moléculas permanece intacta. O ácido acético é um eletrólito fraco: em água nas concentrações normais, somente uma pequena fração das moléculas de CHX3COOH\ce{CH3COOH} se separa em íons hidrogênio, HX+\ce{H+}, e íons acetato, CHX3COX2X\ce{CH3CO2-}. Uma das formas de distinguir entre eletrólitos fortes e fracos é medir sua capacidade de conduzir eletricidade. Na mesma concentração molar de soluto, um eletrólito forte é um condutor melhor do que um ácido fraco.

Exemplo 2E.1.1
Classificação de solutos como eletrólitos ou não eletrólitos

Considere as substâncias: NaOH\ce{NaOH}, BrX2\ce{Br2}, CHX3CHX2OH\ce{CH3CH2OH}, Pb(NOX3)X2\ce{Pb(NO3)2} e CX12HX22OX11\ce{C12H22O11}.

Classifique as substâncias como eletrólito ou não eletrólito e diga quais delas conduzem eletricidade quando dissolvidas em água:

Etapa 2. Identifique os eletrólitos fortes: ácidos fortes e bases fortes e compostos iônicos solúveis.

O NaOH\ce{NaOH} e o Pb(NOX3)X2\ce{Pb(NO3)2} são compostos iônicos solúveis eletrólitos fortes e conduzem eletricidade em água.

Etapa 3. Identifique os eletrólitos fracos: ácidos fortes e bases fracos e compostos iônicos pouco solúveis.

O CHX3CHX2OH\ce{CH3CH2OH} é um ácido fraco, então, esse é um eletrólito fraco que possui uma capacidade menor de condução de eletricidade em água.

Etapa 4. Identifique os não eletrólitos: compostos moleculares

O BrX2\ce{Br2} e CX12HX22OX11\ce{C12H22O11} são compostos moleculares não eletrólitos que não conduzem eletricidade em água.

Todas as soluções eletrolíticas são eletricamente neutras, isto é, a concentração líquida de cargas em solução é nula. Assim, as concentrações dos íons em solução podem ser relacionadas por um balanço de cargas: caˊtionsq×c=aˆnionsq×c \sum_\text{cátions} q \times c = \sum_\text{ânions} q \times c Onde qq é a carga de um íon em solução e cc é sua concentração.

Exemplo 2E.1.2
Cálculo da concentração de um íon em solução por balanço de cargas

Uma solução contém 0,1 molL1\pu{0,1 mol.L-1} de cátions ferro(III), 0,3 molL1\pu{0,3 mol.L-1} de ânions nitrato, 0,2 molL1\pu{0,2 mol.L-1} de ânions sulfato e cátions sódio.

Calcule a concentração de cátions sódio na solução.

Etapa 2. Escreva a expressão para o balanço de cargas em solução.

cNaX++3cFeX3+=cClX+2cSOX4X2 c_{\ce{Na^+}} + 3 c_{\ce{Fe^{3+}} } = c_{\ce{Cl^-}} + 2 c_{\ce{SO4^{2-}}} logo, cNaX+={(0,3)+2(0,2)3(0,1)}molL=0,4 molL1 c_{\ce{Na^+}} = \Big\{ (\pu{0,3}) + 2(\pu{0,2}) - 3(\pu{0,1}) \Big\}\,\pu{mol//L} = \fancyboxed{ \pu{0,4 mol.L-1} }

O soluto em uma solução de eletrólito forte em água está na forma de íons que permitem a condução de eletricidade. Os solutos em soluções de não eletrólitos estão presentes como moléculas. Somente uma fração pequena de moléculas do soluto em soluções de eletrólitos fracos está presente como íons. O balanço de cargas permite relacionar as concentrações dos eletrólitos em solução.

A migração dos íons

Íons se movem em solução, e o estudo do seu movimento na presença de uma diferença de potencial fornece uma indicação do seu tamanho, do efeito da solvatação e detalhes do tipo de movimento que sofrem. A migração dos íons em solução é estudada por intermédio da medida da resistência elétrica de uma solução de concentração conhecida em uma célula.

A resistência da solução controla a corrente que passa quando uma diferença de potencial é aplicada entre dois eletrodos de acordo com a lei de Ohm: U=Ri U = Ri Em que UU é a diferença de potencial, RR é a resistência da solução e ii é a corrente elétrica. A resistência de uma amostra depende da natureza e temperatura da substância; é proporcional ao seu comprimento, LL, e inversamente proporcional à sua área de seção transversal, AA. A constante de proporcionalidade é denominada resistividade, ρ\rho, e escrevemos: R=ρLA R = \dfrac{ \rho L }{ A } O inverso da resistividade é a condutividade, κ\kappa: κ=1ρ \kappa = \dfrac{ 1 }{ \rho }

Unidades

O inverso de ohm, Ω1\Omega^{-1}, aparece tão frequentemente em eletroquímica que recebe um nome especial, o siemens: 1 S=1Ω1 \pu{1 S} = \pu{1}\,\Omega^{-1} As condutividades são expressas em siemens por metro, Sm1\pu{S.m-1}.

Ponto para pensar

Por que, na prática, a medida da condutividade de soluções deve feita utilizando corrente alternada?

Uma vez determinado o valor de κ\kappa, obtemos a condutividade molar, Λm\Lambda_\mathrm{m}, quando a concentração molar do soluto é cc, pela expressão: Λm=κc \Lambda_\mathrm{m} = \dfrac{ \kappa }{ c }

Unidades

A condutividade molar é expressa em siemens por metro por molar, ou: 1 Sm1M1=1 SLm1mol1 \pu{1 S.m-1.M-1} = \pu{1 S.L.m-1.mol-1} Essas unidades incômodas são úteis em aplicações práticas, mas podem ser simplificadas para siemens metro quadrado por mol: 1 Sm1M1=1 mSm2mol1 \pu{1 S.m-1.M-1} = \pu{1 mS.m2.mol-1}

A condutividade molar de um eletrólito forte varia com e concentração molar. A condutividade molar limite, Λm\Lambda_\mathrm{m}^\circ, é a condutividade molar no limite de concentração baixa o suficiente para que as interações entre os íons possam ser desprezadas. Quando os íons estão tão distantes que suas interações podem ser ignoradas, podemos imaginar que a condutividade molar se deve à migração independente de cátions em uma das direções e de ânions na direção oposta, e escrever a lei de migração independente: Λm=λ++λ \Lambda_\mathrm{m}^\circ = \lambda_{+} + \lambda_{-} Em que λ+\lambda_{+} + λ\lambda_{-} são as condutividades iônicas individuais dos cátions e ânions (Tab. 2E.1.1).

Tabela 2E.1.1
Condutividades iônicas
Cátionsλ/SmM\lambda/\pu{S//m.M}Ânionsλ/SmM\lambda/\pu{S//m.M}
HX3OX+\ce{H3O^+}35,0\pu{35,0}OHX\ce{OH^-}19,9\pu{19,9}
LiX+\ce{Li^+}3,8\pu{3,8}FX\ce{F^-}5,5\pu{5,5}
NaX+\ce{Na^+}5,0\pu{5,0}ClX\ce{Cl^-}7,6\pu{7,6}
KX+\ce{K^+}7,3\pu{7,3}BrX\ce{Br^-}7,8\pu{7,8}
RbX+\ce{Rb^+}7,8\pu{7,8}IX\ce{I^-}7,7\pu{7,7}
CsX+\ce{Cs^+}7,7\pu{7,7}COX3X2\ce{CO3^{2-}}13,9\pu{13,9}
MgX2+\ce{Mg^{2+}}10,6\pu{10,6}NOX3X\ce{NO3^-}7,1\pu{7,1}
CaX2+\ce{Ca^{2+}}11,9\pu{11,9}SOX4X2\ce{SO4^{2-}}16,0\pu{16,0}
SrX2+\ce{Sr^{2+}}11,9\pu{11,9}CHX3COX2X\ce{CH3CO2^-}4,1\pu{4,1}
NHX4X+\ce{NH4^+}7,3\pu{7,3}HCOX2X\ce{HCO2^-}5,5\pu{5,5}

A capacidade de um íon em conduzir eletricidade depende da facilidade com que esse se move pela solução. A mobilidade de um íon é alta quando sua carga é elevada e quando seu raio é pequeno. Esses aspectos parecem contradizer as tendências da Tabela 1. Por exemplo, a condutividade dos cátions do grupo 1 aumenta na ordem LiX+\ce{Li^+}, NaX+\ce{Na^+}, KX+\ce{K^+}, apesar de seus raios também aumentarem. A explicação é que o raio que influencia a mobilidade iônica em solução é o raio hidrodinâmico, o raio efetivo para a migração dos íons, levando-se em conta o corpo que se move como um todo. Quando um íon migra, carrega consigo moléculas de água de hidratação e, como íons pequenos são hidratados mais extensivamente do que íons grandes, aqueles de raio pequeno na realidade têm um raio hidrodinâmico grande. Desse modo, o raio hidrodinâmico diminui na ordem LiX+\ce{Li^+}, NaX+\ce{Na^+}, KX+\ce{K^+}, porque a extensão da hidratação diminui com o aumento do raio iônico.

Exemplo 2E.1.3
Cálculo da concentração de um íon por condutometria

A condutividade de uma solução de cloreto de cálcio, CaClX2\ce{CaCl2}, é 12 Sm1\pu{12 S.m-1}.

Calcule a concentração de CaClX2\ce{CaCl2} na solução.

CaX2+\ce{Ca^{2+}}ClX\ce{Cl^{-}}
λ/SmM\lambda/\pu{S//m.M}12\pu{12}6\pu{6}
Etapa 2. Calcule a condutividade molar do cloreto de cálcio usando a lei de migração independente.

De Λm=λ++λ\Lambda_\mathrm{m}^\circ = \lambda_{+} + \lambda_{-} Λm=(12 SmM)+2×(6 SmM)=24 SmM \Lambda_\mathrm{m}^\circ = (\pu{12 S//m.M}) + 2 \times (\pu{6 S//m.M}) = \pu{24 S//m.M}

Etapa 3. Calcule a concentração

De Λm=κ/c\Lambda_\mathrm{m}^\circ = \kappa/c c=12 Sm24 SmM=0,5 molL1 c = \dfrac{ \pu{12 S//m} }{ \pu{24 S//m.M} } = \fancyboxed{ \pu{0,5 mol.L-1} }

Como podemos relacionar as concentrações iônicas com a concentração inicial, podemos realizar medidas de condutividade para determinar o grau de ionização. O mesmo tipo de medida pode também ser utilizado para acompanhar o andamento de reações em solução, contando que as mesmas envolvam íons.

Exemplo 2E.1.4
Cálculo do andamento de uma reação por condutometria

Para estudar a cinética da reação entre o acetato de etila, AcOEt\ce{AcOEt}, e o hidróxido de sódio, NaOH\ce{NaOH}: AcOEt(aq)+NaOH(aq)NaOAc(aq)+EtOH(aq) \ce{ AcOEt(aq) + NaOH(aq) -> NaOAc(aq) + EtOH(aq) } Uma solução foi preparada contendo, inicialmente, 1 molL1\pu{1 mol.L-1} de hidróxido de sódio e 2 molL1\pu{2 mol.L-1} de acetato de etila. A condutividade do meio reacional foi monitorada ao longo da reação.

Em um dado instante a condutividade da solução é 21 Sm1\pu{21 S.m-1}.

Determine a fração de acetato de etila que reagiu até esse instante.

NaX+\ce{Na^+}OHX\ce{OH^-}AcOX\ce{AcO^-}
λ/SmM\lambda/\pu{S//m.M}5\pu{5}20\pu{20}4\pu{4}
Etapa 2. Calcule as condutividades molares usando a lei de migração independente.

De Λm=λ++λ\Lambda_\mathrm{m}^\circ = \lambda_{+} + \lambda_{-} Λm,NaOH={5+20}SmM=24 SmMΛm,NaAc={5+4}SmM=9 SmM \begin{aligned} \Lambda_{\mathrm{m}, \ce{NaOH}}^\circ &= \Big\{ \pu{5} + \pu{20} \Big\}\,\pu{S//m.M} = \pu{24 S//m.M} \\ \Lambda_{\mathrm{m}, \ce{NaAc}}^\circ &= \Big\{ \pu{5} + \pu{4} \Big\}\,\pu{S//m.M} = \pu{9 S//m.M} \end{aligned}

Etapa 3. Elabore uma tabela de reação.
AcOEt\ce{AcOEt}NaOH\ce{NaOH}NaOAc\ce{NaOAc}EtOH\ce{EtOH}
início2\pu{2}1\pu{1}0000
reaçãox-xx-x+x+x+x+x
final2x\pu{2} - x1x\pu{1} - xxxxx
Etapa 4. Insira os valores da tabela na expressão da condutividade.

De κ=cNaOHΛm,NaOH+cNaAcΛm,NaAc\kappa = c_{\ce{NaOH}} \Lambda^\circ_{\mathrm{m}, \ce{NaOH}} + c_{\ce{NaAc}} \Lambda^\circ_{\mathrm{m}, \ce{NaAc}} κ=24 SmM(1 Mx)+(9 SmM)x=24 Sm(15 SmM)x \kappa = \pu{24 S//m.M} (\pu{1 M} - x) + (\pu{9 S//m.M}) x = \pu{24 S//m} - (\pu{15 S//m.M}) x

Etapa 5. Calcule a concentração de acetato de etila que reagiu, xx, igualando a condutividade a 21 Sm1\pu{21 S.m-1}.

De κ=24 Sm(15 SmM)x=21 Sm\kappa = \pu{24 S//m} - (\pu{15 S//m.M}) x = \pu{21 S//m} x=0,2 molL1 x = \fancyboxed{ \pu{0,2 mol.L-1} }

Etapa 6. Divida a concentração de AcOEt\ce{AcOEt} que reagiu, xx, pela concentração inicial de AcOEt\ce{AcOEt}, 2 M\pu{2 M}, para calcular a fração de acetato de etila que reagiu.

De f=x/cAcOEt,inicialf = x/c_{\ce{AcOEt}, \text{inicial}} f=0,2 M2 M=10% f = \frac{ \pu{0,2 M} }{ \pu{2 M} } = \fancyboxed{ \pu{10}\% }

A condutividade dos íons em solução aumenta com o aumenta da carga e com a diminuição do raio hidrodinâmico. A condutometria é usada pra o cálculo da concentração de íons em solução.