No estudo das soluções, três medidas de concentração são úteis. Para um soluto A:
A fração mássica, denotada por fA.
A fração molar, denotada por xA.
A concentração molar, normalmente chamada de molaridade, representada por cA ou [A].
A concentração molal, normalmente chamada de molalidade, denotada por wA.
A fração mássica e a fração molar
Uma das maneiras de expressar a composição de uma mistura é como a fração mássica de cada componente, isto é, a massa de cada componente em um total de 100g da mistura. Por exemplo, se 15g de NaCl são dissolvidos em 60g de água, a massa total da mistura é 75g e a percentagem de NaCl na solução é (15g/75g)×100%=20% de NaCl. Se a amostra contém 30g daquela solução, ela terá a mesma composição, 20% de NaCl em massa e conterá 6g de NaCl.
Além disso, especialmente nas ciências ambientais, a concentração das substâncias muitas vezes é expressa em partes por milhão (ppm) ou partes por bilhão (ppb). Por exemplo, se existem 1mg de um agente poluente em uma solução composta por 1kg de água, a propriedade seria expressa como 1ppm, já que existe 1⋅10−6g=1ug de agente para cada 1g de água. Como a densidade da água é 1kg⋅L−1,Soluc¸o˜es aquosas diluıˊdas:1ppm=1kgmg=1Lmg
Atenção
Quando a concentração é expressa em ppm, é importante indicar as unidades usadas no cálculo:
A concentração expressa em partes por milhão em massa é representada apenas como ppm ou ppm(m/m).
A concentração expressa em partes por milhão em volume é representada por ppmV ou ppm(V/V).
A fração molar é definida como sendo a razão entre a quantidade (em mols) de uma espécie e a quantidade de todas as espécies presentes em uma mistura: xA=ntotalnsoluto=nA+nB+…nA A fração molar é importante porque se refere ao número relativo de moléculas de soluto e de solvente.
A fração molar de um soluto é a quantidade de soluto dividida pela quantidade total de espécies na solução.
A molaridade
Com frequência, é importante em química saber a quantidade de soluto em um dado volume de solução. A concentração molar, c, de um soluto em uma solução, chamada comumente de molaridade do soluto, é a quantidade de moléculas do soluto ou de fórmulas unitárias presente em um dado volume da solução: cJ=Vsoluc¸a˜onsoluto=VnA
Unidades
A molaridade é expressa em mols por litro (mol⋅L−1), também representado por: 1M=1mol⋅L−1 O símbolo M é lido como molar.
Como a molaridade é definida em termos do volume da solução, e não do volume do solvente usado para preparar a solução, o volume deve ser medido depois que os solutos forem adicionados. O modo mais comum de preparar uma solução de uma dada molaridade é transferir uma massa conhecida do sólido para um balão volumétrico, um frasco calibrado para conter um dado volume, acrescentar um pouco de água para dissolver o soluto, encher o balão com água até a marca e, então, agitar o balão invertendo o frasco repetidamente.
Exemplo 2D.2.1
Cálculo da massa de soluto necessária para atingir uma dada concentração
Deseja-se preparar 250mL de uma solução 0,04mol⋅L−1 de sulfato de cobre(II) usando sulfato de cobre(II) penta-hidratado, CuSOX4⋅5HX2O.
Calcule a massa de sólido necessária para preparar a solução.
Etapa 2.
Calcule a quantidade de soluto.
De c=nsoluto/Vsoluc¸a˜o,n=(0,04mol⋅L−1)×(0,25L)=10mmol
Etapa 3.
Converta a quantidade de CuSOX4⋅5HX2O em massa usando a massa molar.
De m=nM,m=(10mmol)×(249,5molg)=2,5g
A molaridade também pode ser usada para calcular o volume de solução, V, que contém uma determinada quantidade de soluto.
Exemplo 2D.2.2
Cálculo do volume de uma solução que contém uma dada quantidade de soluto
Deseja-se obter 0,8mmol de ácido acético, CHX3COOH, a partir de uma solução aquosa 0,05mol⋅L−1.
Calcule o volume da solução que deve ser usado.
Etapa 2.
Calcule o volume da solução que contém a quantidade desejada de ácido acético.
De c=nsoluto/Vsoluc¸a˜o,V=0,056mol⋅L−10,8⋅10−3mol=0,016L
A molaridade de um soluto em uma solução é a quantidade de soluto dividida pelo volume da solução em litros.
A molalidade
A molalidade, bJ, de um soluto é definida como a quantidade de soluto (em mols) de uma solução dividida pela massa do solvente (em quilogramas): wJ=msolventensoluto=mnA Assim como a fração molar, a molalidade se refere à quantidade relativa de moléculas de soluto e de solvente.
Unidades
A molalidade é expressa em mols por quilograma (mol⋅kg−1), também representado por: 1m=1mol⋅kg−1 O símbolo m é lido como molal.
Observe a ênfase no solvente na definição de molalidade, e na solução na definição de molaridade. A fração molar e a molalidade são independentes da temperatura. A molaridade, por outro lado, depende do volume da solução, que pode mudar em função da temperatura.
Exemplo 2D.2.3
Cálculo da molalidade a partir da fração molar
Considere uma solução de benzeno, CX6HX6, em tolueno, CX7HX8, em que a fração molar de benzeno é 0,25.
Calcule a molalidade do benzeno na solução.
Etapa 2.
Base de cálculo: 1mol total. Converta a quantidade de tolueno em massa usando sua massa molar.
De m=nMmtolueno=(0,75mol)×(92molg)=69g
Etapa 3.
Calcule a molalidade do benzeno na solução.
De w=nsoluto/msolventew=69⋅10−3kg0,25mol=3,6mol⋅kg−1
É necessário conhecer a densidade da solução para converter molaridade em molalidade.
Exemplo 2D.2.4
Cálculo da molalidade a partir da molaridade
Considere uma solução aquosa de sacarose, CX12HX22OX11, na concentração 1,06mol⋅L−1 cuja densidade é 1,14g⋅mL−1.
Calcule a molalidade da solução.
Etapa 2.
Base de cálculo: 1L. Converta a quantidade de sacarose em massa usando sua massa molar.
De m=nM,msacarose=(1,06mol)×(342molg)=362,5g
Etapa 3.
Calcule a massa total da solução a partir do volume da densidade.
De d=m/V,m=(1,14mLg)×(1000mL)=1140g
Etapa 4.
Calcule a massa de solvente.
De m=msolvente+msoluto,msolvente=1140g−362,5g=777,5g
Etapa 5.
Calcule a molalidade do benzeno na solução.
De w=nsoluto/msolvente,w=0,777g1,06mol=1,36mol⋅kg−1
A molalidade de um soluto em uma solução é a quantidade de soluto dividida pela massa do solvente usado para preparar a solução.
A cor das soluções
A luz branca é uma mistura de todos os comprimentos de onda da radiação eletromagnética entre cerca de 400nm (violeta) e cerca de 700nm (vermelho). Quando alguns desses comprimentos de onda são removidos do feixe de luz branca que passa através de uma amostra, a luz que passa não é mais branca. Por exemplo, se a luz vermelha é retirada da luz branca por absorção, a luz que resta é de cor verde. Se a luz verde é removida, a luz que aparece é vermelha. O vermelho e o verde são chamados de cores complementares uma da outra — cada uma é a cor que permanece depois que a outra é removida (Fig. 2D.2.1).
A roda de cores mostrada na ilustração pode ser usada para sugerir a faixa de comprimento de onda na qual uma substância tem absorção significativa (não necessariamente absorção máxima). Se uma substância parece azul (como no caso da solução de sulfato de cobre(II), por exemplo), é porque ela está absorvendo a luz laranja (580nm a 620nm). Igualmente, com base no comprimento de onda (e, portanto na cor) da luz absorvida pela substância, é possível predizer a cor da substância pela cor complementar na roda das cores. Como o MnOX4X− absorve luz em 535nm, que é a luz amarelo-esverdeada, o composto aparece violeta.
Ponto para pensar
Que cor tem uma substância que absorve as luzes violeta e azul?
A absorção da luz visível por substâncias pode ser usada para medir suas concentrações, usando-se um espectrômetro. Em determinado comprimento de onda, a absorbância, A, de uma solução é definida como o logaritmo comum (base 10) da razão entre a intensidade da luz incidente, I0, e a intensidade da luz transmitida através da amostra, I (Fig. 2D.2.2): A=log(II0)
A solução é transferida para um tubo retangular transparente, chamado de cubeta. A absorbância é proporcional ao caminho óptico da luz na solução, L, e à concentração molar da substância, c (isto é, A∝Lc). O coeficiente de proporcionalidade é expresso por ϵ e é chamado de coeficiente de absorção molar: A=ϵLc Essa relação normalmente é escrita em termos das intensidades, inserindo-se a definição de A: Lei de Beer-Lambert:I=I0×10−ϵLc Essa forma da relação é denominada Lei de Beer. O coeficiente de absorção molar, ϵ, é uma característica do composto para um valor específico de comprimento de onda da luz incidente.
O que esta equação revela?
A intensidade transmitida cai rapidamente com o caminho óptico: se este for duplicado, tem-se uma redução de 100 vezes na intensidade transmitida.
Exemplo 2D.2.5
Cálculo da concentração por espectrofotometria
As concentrações das soluções do íon permanganato, MnOX4X−, que é púrpura, são frequentemente determinadas pela via espectrofotométrica. Uma célula com caminho óptico igual a 1cm contendo uma solução de KMnOX4 tem absorbância igual a 0,4 a 525nm
O coeficiente de absorção molar do MnOX4X− a 525nm é 2,5L⋅mol−1⋅cm−1
Calcule a concentração de íons MnOX4X− na solução.
Etapa 2.
Use a Lei de Beer.
De A=ϵLc,c=(2,5mol⋅cmL)×(1cm)0,4=1mol⋅L−1
A absorbância de um composto em solução é proporcional à sua concentração molar. A lei de Beer pode ser usada para se determinar a concentração de solutos.