O processo de vaporização é um dos mais importantes no estudo das transições de fase, porque fornece informações sobre as forças entre as moléculas, além de ter aplicação na separação de substâncias.
Um experimento simples mostra que, em um recipiente fechado, as fases líquido e vapor entram em equilíbrio. Primeiro, você vai precisar de um barômetro de mercúrio. O mercúrio dentro do tubo cai até uma altura proporcional à pressão atmosférica externa, ficando em torno de no nível do mar. O espaço acima do mercúrio é quase um vácuo. Agora, injete uma pequena gota de água ao espaço acima do mercúrio. A água adicionada evapora imediatamente e enche o espaço com vapor de água. Esse vapor exerce pressão e empurra a superfície do mercúrio alguns milímetros para baixo. A pressão exercida pelo vapor — medida pela mudança da altura do mercúrio — depende da quantidade de água adicionada. Suponha, porém, que foi adicionada água suficiente para que reste uma pequena quantidade de líquido na superfície do mercúrio. Nessa situação, a pressão de vapor permanece constante, independentemente da quantidade de água líquida presente. Você pode concluir que:
Por exemplo, em , o mercúrio cai , logo, a pressão exercida pelo vapor é . A pressão do vapor de água é a mesma se estiver presente ou de água líquida. Essa pressão característica é a pressão de vapor do líquido na temperatura do experimento (Tab. 3D.1.1).
Substância | Substância | ||
---|---|---|---|
metanol | tolueno | ||
benzeno | água | ||
etanol | mercúrio |
Líquidos cuja pressão de vapor é alta nas temperaturas comuns são chamados de voláteis. O metanol (pressão de vapor , em ) é volátil, o mercúrio (), não. Os sólidos também exercem pressão de vapor, mas sua pressão de vapor é, normalmente, muito mais baixa do que a dos líquidos, porque as moléculas do sólido se atraem mais fortemente do que as do líquido.
Por exemplo, mesmo em a pressão de vapor do ferro é apenas , um valor muito baixo para sustentar uma coluna de mercúrio de um átomo de altura! Contudo, alguns sólidos irritantes como o mentol e o iodo, por exemplo, sofrem sublimação (são convertidos diretamente em vapor) e podem ser detectados pelo odor. A pressão de vapor do iodo é em .
A pressão de vapor de uma substância é a pressão exercida pelo vapor que está em equilíbrio dinâmico com a fase condensada. No equilíbrio, a velocidade de vaporização é igual à velocidade de condensação, e nenhum dos dois fenômenos é espontâneo.
A pressão de vapor é alta quando as moléculas de um líquido são mantidas por forças intermoleculares fracas, ao passo que a pressão de vapor é baixa quando as forças intermoleculares são fortes. Por isso, você deveria esperar que os líquidos formados por moléculas capazes de formar ligações hidrogênio (que são mais fortes do que outras interações intermoleculares) sejam menos voláteis do que outros de massa molecular comparável, porém incapazes de formar ligações hidrogênio.
Pode-se ver claramente o efeito das ligações hidrogênio ao comparar metóximetano e etanol, cujas fórmulas moleculares são iguais, . A molécula de etanol tem um grupo que pode formar ligações hidrogênio com outras moléculas de álcool. As moléculas do éter não podem formar ligações hidrogênio umas com as outras, porque os átomos de hidrogênio estão ligados a átomos de carbono e a ligação não é muito polar. A pressão de vapor do etanol em é , enquanto o valor para o metóximetano é . Como resultado dessas diferenças, o etanol é um líquido na temperatura e pressão normais e o metóximetano é um gás.
A pressão de vapor de um líquido, em uma determinada temperatura, deve ser baixa se as forças que atuam entre suas moléculas forem fortes.
A pressão de vapor de um líquido depende da facilidade que as moléculas do líquido encontram para escapar das forças que as mantêm juntas. Em temperaturas mais elevadas, mais energia está disponível para isso do que em temperaturas mais baixas; logo, a pressão de vapor de um líquido deve aumentar quando a temperatura aumenta. Tanto os argumentos cinéticos apresentados quanto as relações termodinâmicas podem ser usados para encontrar uma expressão para a dependência entre pressão de vapor e temperatura.
A pressão de vapor de um líquido é função da energia livre da vaporização, , pela equação (Tópico 3C): em que é a pressão padrão.
De As pressões de vapor e em duas temperaturas e são É razoável considerar e aproximadamente independentes da temperatura na faixa de interesse. Quando essa aproximação é feita, podemos eliminar subtraindo a primeira equação da segunda:
O resultado desse cálculo é a equação de Clausius-Clapeyron para a pressão de vapor de um líquido em duas temperaturas diferentes: em que é a entalpia de vaporização.
A Fig. 3D.1.1 mostra como a pressão de vapor de alguns líquidos varia com a temperatura. Em um diagrama de fases, se uma das fases é um vapor, a pressão que corresponde a este equilíbrio é a pressão de vapor da substância. Portanto, o limite das fases líquido-vapor mostra como a pressão de vapor do líquido varia com a temperatura.
A entalpia de vaporização do é e sua pressão de vapor em é .
Calcule a pressão de vapor do em .
De logo,
Uma forma mais simples da Eq. 3D.1.1, muito usada para calcular a dependência da pressão de vapor com a temperatura, é obtida escrevendo-se assim, a expressão se torna: Esta expressão tem a forma: em que e são constantes que dependem da substância. Para determinada substância, um gráfico de em função de deve ser uma linha reta com inclinação dada por .
A pressão de vapor de um líquido foi metida em várias temperaturas, com os seguintes resultados:
Calcule a entalpia de vaporização desse líquido.
Tomando os pontos e :
Como o coeficiente angular é igual a ,
A pressão de vapor de um líquido aumenta com o aumento da temperatura. A equação de Clausius‑Clapeyron estabelece a dependência quantitativa da pressão de vapor com a temperatura.
Observe o que acontece quando um líquido é aquecido em um recipiente aberto à atmosfera. Quando a temperatura alcança o ponto em que a pressão de vapor é igual à pressão atmosférica ocorre vaporização em todo o líquido, não só na superfície, e o líquido ferve. Nessa temperatura, o vapor formado pode afastar a atmosfera e criar espaço para si mesmo. Assim, bolhas de vapor formam-se no líquido e sobem rapidamente até a superfície. O ponto de ebulição normal, , de um líquido é a temperatura na qual um líquido ferve quando a pressão atmosférica é . Para encontrar o ponto de ebulição devemos encontrar a temperatura em que a pressão de vapor se iguala a pressão atmosférica.
Um líquido pode ferver em um vaso rígido selado?
A ebulição acontece em uma temperatura superior ao ponto de ebulição normal quando a pressão é superior a , como ocorre em uma panela de pressão. Uma temperatura mais alta é necessária para elevar a pressão de vapor do líquido até a pressão do interior da panela. A ebulição acontece em uma temperatura mais baixa quando a pressão é inferior a , porque a pressão de vapor alcança a pressão externa em uma temperatura mais baixa. No alto do Monte Everest, onde a pressão é aproximadamente a água ferve em .
Quanto menor for a pressão de vapor, maior será o ponto de ebulição. Assim, um ponto de ebulição normal alto é um sinal da ação de forças intermoleculares fortes.
O ponto de ebulição normal do etanol é e sua pressão de vapor em é .
Calcule o ponto de ebulição normal do etanol em .
De logo,
A ebulição ocorre quando a pressão de vapor de um líquido é igual à pressão externa (atmosférica). Forças intermoleculares intensas normalmente causam pontos de ebulição normais elevados.