Um ácido poliprótico é um composto que pode doar mais de um próton. Muitos ácidos comuns são polipróticos, dentre eles o ácido sulfúrico, HX2SOX4\ce{H2SO4}, e o ácido carbônico, HX2COX3\ce{H2CO3}, que podem doar dois prótons, e o ácido fosfórico, HX3POX4\ce{H3PO4}, que pode doar três prótons. Uma base poliprótica é uma espécie que pode aceitar mais de um próton. Exemplos incluem os ânions COX3X2\ce{CO3^{2-}} e SOX3X2\ce{SO3^{2-}}, que podem aceitar dois prótons, e o ânion POX4X3\ce{PO4^{3-}}, que pode aceitar três prótons.

Ponto para pensar

As desprotonações sucessivas de um ácido poliprótico resultarão em ácidos mais fortes ou em ácidos mais fracos?

O pH das soluções de ácido polipróticos

O ácido carbônico é um componente natural importante do ambiente que se forma toda vez que o dióxido de carbono se dissolve na água. Na verdade, os oceanos garantem um dos mecanismos críticos para a manutenção da concentração constante do dióxido de carbono na atmosfera. O ácido carbônico participa de dois equilíbrios sucessivos de transferência de prótons: HX2COX3(aq)+HX2O(l)HX3OX+(aq)+HCOX3XKa1=4,3107HCOX3X(aq)+HX2O(l)HX3OX+(aq) COX3X2Ka2=5,61011 \begin{aligned} \ce{ H2CO3(aq) + H2O(l) &<=> H3O^+(aq) + HCO3^- } && K_\mathrm{a1} = \pu{4,3e-7} \\ \ce{ HCO3^-(aq) + H2O(l) &<=> H3O^+(aq) CO3^{2-} } && K_\mathrm{a2} = \pu{5,6e-11} \end{aligned} A base conjugada de HX2COX3\ce{H2CO3} no primeiro equilíbrio, o íon HCOX3X\ce{HCO3^-}, age como um ácido no segundo equilíbrio. Esse íon, por sua vez, produz sua própria base conjugada, COX3X2\ce{CO3^{2-}}.

Os prótons são doados sucessivamente pelos ácidos polipróticos, e a constante de acidez decresce significativamente, em geral por um fator de cerca de 10310^3 ou mais, em cada perda de próton. Essa diminuição está ligada à atração entre cargas opostas: é mais difícil para um íon de carga negativa (como HCOX3X\ce{HCO3^-}) perder um próton, que tem carga positiva, do que para a molécula neutra original (HX2COX3\ce{H2CO3}). O ácido sulfúrico, por exemplo, é um ácido forte, mas sua base conjugada, HSOX4X\ce{HSO4^-}, é um ácido fraco.

  • Para calcular o pH de um ácido poliprótico use Ka1K_\mathrm{a1} e só leve em conta a primeira desprotonação. Em outras palavras, trate o ácido como se fosse um ácido monoprótico fraco.

As desprotonações subsequentes ocorrem, mas, desde que Ka2K_\mathrm{a2} seja inferior a Ka1/1000K_\mathrm{a1}/1000, não afetam significativamente o pH e podem ser ignoradas. O ácido sulfúrico é o único ácido poliprótico comum para o qual a primeira desprotonação pode ser considerada completa. A segunda desprotonação aumenta ligeiramente a concentração de HX3OX+\ce{H3O^+}, logo o pH é ligeiramente menor do que o devido somente à primeira desprotonação.

Estime o pH de um ácido poliprótico para o qual todas as desprotonações são fracas usando somente o primeiro equilíbrio de desprotonação e considere insignificantes as demais desprotonações. Uma exceção é o ácido sulfúrico, o único ácido poliprótico comum que é um ácido forte em sua primeira desprotonação.

O pH das soluções de sais de anfipróticos

A base conjugada de um ácido poliprótico é anfiprótica: ela pode agir como um ácido ou como uma base porque pode doar seu átomo de hidrogênio ácido ou aceitar um próton e voltar ao ácido original. Por exemplo, um íon hidrogenossulfeto, HSX\ce{HS^-}, em água, age como um ácido ou como uma base: HSX(aq)+HX2O(l)HX3OX+(aq)+SX2(aq)Ka2=7,11015HSX(aq)+HX2O(l)HX2S(aq)+OHX(aq)Kb1=7,7108 \begin{aligned} \ce{ HS^-(aq) + H2O(l) &<=> H3O^+(aq) + S^{2-}(aq) } && K_\mathrm{a2} = \pu{7,1e-15}\\ \ce{ HS^-(aq) + H2O(l) &<=> H2S(aq) + OH^-(aq) } && K_\mathrm{b1} = \pu{7,7e-8} \end{aligned} Como HSX\ce{HS^-} é anfiprótico, não é imediatamente aparente se uma solução de NaHS\ce{NaHS} em água é ácida ou básica.

Atenção

São exceções HSOX4X\ce{HSO4^-}, que é uma base muito fraca, e HPOX3X2\ce{HPO3^{2-}}, que não atua como ácido porque o próton não é acido

O procedimento para estimar o pH das soluções de espécies anfipróticas segue a mesma lógica dos sais com cátion ácido e ânion básico. Considera-se o equilíbrio entre o ácido mais forte em solução e a base mais forte em solução. A diferença é que, nesses casos, a espécie anfiprótica é tanto o ácido mais forte quanto a base mais forte, e a reação ácido-base dominante é: 2HSX(aq)HX2S(aq)+SX2(aq) \ce{ 2 HS^-(aq) <=> H2S(aq) + S^{2-}(aq) } Como essa é a reação com maior contante de equilíbrio, ela pode ser usada para estimar as concentrações de HSX,\ce{HS^-}, HX2S\ce{H2S} e SX2.\ce{S^{2-}}. Em seguida, a concentração de íon hidrônio pode ser calculada a partir de qualquer uma das constantes de acidez.

Em soluções suficientemente diluídas para que essa estimativa seja válida, o pH é dado por: pH=pKa1+pKa22 \fancyboxed{ \mathrm{pH} = \dfrac{ \mathrm{p}K_\mathrm{a1} + \mathrm{p}K_\mathrm{a2} }{2} } em que, para um ânion de fórmula HAX\ce{HA^-} (como HSX\ce{HS^-}), Ka1K_\mathrm{a1} é a primeira constante de acidez do ácido original HX2A\ce{H2A} (HX2S\ce{H2S}, neste exemplo) e Ka2K_\mathrm{a2} é a segunda constante de acidez do HX2A\ce{H2A}, que é a constante de acidez do HAX\ce{HA^-} em si.

Essa fórmula é confiável se c0Kw/Ka2c_0 \gg K_\mathrm{w}/K_\mathrm{a2} e c0Ka1c_0 \gg K_\mathrm{a1}, em que c0c_0 é a concentração inicial do sal. Se esses critérios não forem atendidos, uma expressão muito mais complexa precisa ser usada.

Exemplo 3H.3.1
Estimativa do pH de uma solução de sal anfiprótico

Considere uma solução 0,3 molL1\pu{0,3 mol.L-1} de NaHX2POX4\ce{NaH2PO4}.

Estime o pH da solução.

  • pKa1(HX3POX4)=2,1\mathrm{p}K_\mathrm{a1}(\ce{H3PO4}) = \pu{2,1}
  • pKa2(HX3POX4)=7,2\mathrm{p}K_\mathrm{a2}(\ce{H3PO4}) = \pu{7,2}
Etapa 2. Use a fórmula do pH de soluções de sal anfiprótico.

De pH=12(pKa1+pKa2)\mathrm{pH} = \tfrac{1}{2}(\mathrm{p}K_\mathrm{a1} + \mathrm{p}K_\mathrm{a2}) pH=2,1+7,22=4,65 \mathrm{pH} = \dfrac{ \pu{2,1} + \pu{7,2} }{2} = \fancyboxed{ \pu{4,65} }

O pH da solução de um sal anfiprótico em água é igual à média dos pKa do íon e de seu ácido conjugado. O pH de uma solução de um sal da base conjugada final de um ácido poliprótico é obtido a partir da reação do ânion com a água.

As concentrações de solutos

Os químicos ambientais, que estudam a poluição causada por fertilizantes arrastados pela água em plantações, ou os mineralogistas, que estudam a formação de rochas sedimentares pela percolação dos lençóis freáticos a partir de formações rochosas, precisam conhecer, além do pH, as concentrações de cada um dos íons presentes na solução. Por exemplo, eles podem precisar conhecer a concentração dos íons sulfito em uma solução de ácido sulfuroso ou as concentrações de íons fosfato e hidrogenofosfato em uma solução de ácido fosfórico. Os cálculos descritos no Exemplo 6 nos fornecem o pH — a concentração de íons hidrônio —, mas não nos dão as concentrações de todos os solutos em solução, que podem incluir HX3POX4\ce{H3PO4}, HX2POX4X\ce{H2PO4^-}, HPOX4X2\ce{HPO4^{2-}} e POX4X3\ce{PO4^{3-}}. Para calculá-las, é preciso levar em conta todos os equilíbrios simultâneos de transferência de prótons na solução.

Para simplificar os cálculos, comece por julgar a concentração relativa de cada espécie em solução, identificando termos que possam ser desprezados. Neste caso, use a regra geral de que as concentrações das espécies presentes em grande quantidade não são significativamente afetadas pelas concentrações das espécies presentes em pequena quantidade, especialmente se as diferenças forem grandes. Contudo, todas as hipóteses devem ser avaliadas e confirmadas nos término dos cálculos.

Exemplo 3H.3.2
Cálculo das concentrações de todas as espécies em uma solução de um ácido poliprótico

Considere uma solução 0,1 molL1\pu{0,1 mol.L-1} de HX3POX4.\ce{H3PO4}.

Calcule a concentração de todas as espécies em solução.

  • Ka1=7,6103K_\mathrm{a1} = \pu{7,6e-3}
  • Ka2=6,2108K_\mathrm{a2} = \pu{6,2e-8}
  • Ka3=2,11013K_\mathrm{a3} = \pu{2,1e-13}
Etapa 2. Escreva a expressão da constante de equilíbrio para a primeira desprotonação.

HX3POX4(aq)+HX2O(l)HX2POX4X(aq)+HX3OX+(aq)Ka1=[HX3OX+][HX2POX4X][HX3POX4] \begin{aligned} \ce{ H3PO4(aq) + H2O(l) <=> H2PO4^-(aq) + H3O^+(aq) } & \\ K_\mathrm{a1} = \ce{ \frac{[H3O^+][H2PO4^-]}{[H3PO4]} } & \end{aligned}

Etapa 3. Elabore uma tabela de reação para a primeira desprotonação.
c/molL1c/\pu{mol.L-1}HX2SOX4\ce{H2SO4}HSOX4X\ce{HSO4^-}HX3OX+\ce{H3O^+}
início0,1\pu{0,1}0000
reação0,1α-\pu{0,1}\alpha+0,1α+\pu{0,1}\alpha+0,1α+\pu{0,1}\alpha
final0,1(1α)\pu{0,1}(1-\alpha)0,1α\pu{0,1}\alpha0,1α\pu{0,1}\alpha
Etapa 4. Insira os valores da tabela na expressão do Ka1K_\mathrm{a1}.

Ka1=(0,1α)20,1(1α)=0,1×α21α=7,6103 K_\mathrm{a1} = \dfrac{ (\pu{0,1} \alpha)^2 }{ \pu{0,1} (1-\alpha) } = \pu{0,1} \times \dfrac{\alpha^2}{1-\alpha} = \pu{7,6e-3} Resolvendo a equação para α\alpha obtemos: α=0,24 \alpha = \pu{0,24}

Etapa 5. Calcule a concentração de HX3OX+\ce{H3O^+} e HX2POX4X\ce{H2PO4^-}.

De [HX3OX+]=[HX2POX4X]=0,1 molLα\ce{[H3O^+]} = \ce{[H2PO4^-]} = \pu{0,1 mol//L} \alpha [HX3OX+]=[HX2POX4X]=0,1 molL×(0,24)=2,4102 molL1 \ce{[H3O^+]} = \ce{[H2PO4^-]} = \pu{0,1 mol//L} \times (\pu{0,24}) = \fancyboxed{ \pu{2,4e-2 mol.L-1} }

Etapa 6. Calcule a concentração de HX3POX4\ce{H3PO4}.

De [HX3POX4]=0,1 molL(1α)\ce{[H3PO4]} = \pu{0,1 mol//L} (1-\alpha) [HX3POX4]=0,1 molL×(10,24)=7,6102 molL1 \ce{[H3PO4]} = \pu{0,1 mol//L} \times (1 - \pu{0,24}) = \fancyboxed{ \pu{7,6e-2 mol.L-1} }

Etapa 7. Escreva a expressão da constante de equilíbrio para a segunda desprotonação.

HX2POX4X(aq)+HX2O(l)HPOX4X2(aq)+HX3OX+(aq)Ka2=[HX3OX+][HPOX4X2][HX2POX4X] \begin{aligned} \ce{ H2PO4^-(aq) + H2O(l) <=> HPO4^{2-}(aq) + H3O^+(aq) } & \\ K_\mathrm{a2} = \ce{ \frac{[H3O^+][HPO4^{2-}]}{[H2PO4^-]} } & \end{aligned}

Etapa 8. Insira as concentrações de HX3OX+\ce{H3O^+} e HX2POX4X\ce{H2PO4^-} na expressão do Ka2K_\mathrm{a2}.

Como Ka2Ka1K_\mathrm{a2} \ll K_\mathrm{a1}, podemos seguramente considerar que as concentrações de HX3OX+\ce{H3O^+} e HX2POX4X\ce{H2PO4^-} calculadas não mudam na segunda desprotonação. Ka2=(2,4102)×[HPOX4X2]2,4102=6,2108 K_\mathrm{a2} = \dfrac{ (\pu{2,4e-2}) \times \ce{[HPO4^{2-}]} }{ \pu{2,4e-2} } = \pu{6,2e-8} logo, [HPOX4X2]=6,2108 molL1 \ce{[HPO4^{2-}]} = \fancyboxed{ \pu{6,2e-8 mol.L-1} } Como [HPOX4X2]2,4102 molL,[\ce{HPO4^{2-}}] \ll \pu{2,4e-2 mol//L}, a aproximação é válida.

Etapa 9. Escreva a expressão da constante de equilíbrio para a terceira desprotonação.

HPOX4X2(aq)+HX2O(l)POX4X3(aq)+HX3OX+(aq)Ka3=[HX3OX+][POX4X3][HPOX4X2] \begin{aligned} \ce{ HPO4^{2-}(aq) + H2O(l) <=> PO4^{3-}(aq) + H3O^+(aq) } & \\ K_\mathrm{a3} = \ce{ \frac{[H3O^+][PO4^{3-}]}{[HPO4^{2-}]} } & \end{aligned}

Etapa 10. Insira as concentrações de HX3OX+\ce{H3O^+} e HPOX4X2\ce{HPO4^{2-}} na expressão do Ka3K_\mathrm{a3}.

Como Ka3Ka2Ka1K_\mathrm{a3} \ll K_\mathrm{a2} \ll K_\mathrm{a1}, podemos supor que as concentrações de HX3OX+\ce{H3O^+} e HPOX4X2\ce{HPO4^{2-}} calculadas não mudam na segunda desprotonação. Ka3=(2,4102)×[POX4X3]6,2108=2,11013 K_\mathrm{a3} = \dfrac{ (\pu{2,4e-2}) \times \ce{[PO4^{3-}]} }{ \pu{6,2e-8} } = \pu{2,1e-13} logo, [POX4X3]=5,41019 molL1 \ce{[PO4^{3-}]} = \fancyboxed{ \pu{5,4e-19 mol.L-1} } Como [POX4X3]6,2108 molL,[\ce{PO4^{3-}}] \ll \pu{6,2e-8 mol//L}, a aproximação é válida.

As concentrações de todas as espécies de uma solução de um ácido poliprótico podem ser calculadas imaginando‑se que as espécies presentes em pequenas quantidades não afetam as concentrações das espécies presentes em grandes quantidades.

o pH e a composição

Em alguns casos, é necessário saber como as concentrações dos íons de uma solução de um ácido poliprótico variam de acordo com o pH. Por exemplo, se você estivesse examinando o HX2COX3\ce{H2CO3}, deveria esperar que, em pH baixo (em que íons hidrônio são abundantes), a espécie protonada HX2COX3\ce{H2CO3} predomine. Já em pH alto, podemos esperar que a espécie desprotonada, COX3X2\ce{CO3^{2-}}, predomine. Essas expectativas podem ser confirmadas quantitativamente.

Demonstração 3H.3.1
Influência do pH na composição

Para mostrar como as concentrações das espécies presentes em uma solução variam de acordo com o pH, use, como exemplo, o sistema do ácido carbônico. Considere o seguinte equilíbrio de transferência de prótons: HX2COX3(aq)+HX2O(l)HX3OX+(aq)+HCOX3X(aq)Ka1HCOX3X(aq)+HX2O(l)HX3OX+(aq)+COX3X2(aq)Ka2 \begin{aligned} \ce{ H2CO3(aq) + H2O(l) &<=> H3O^+(aq) + HCO3^-(aq) } && K_\mathrm{a1} \\ \ce{ HCO3^-(aq) + H2O(l) &<=> H3O^+(aq) + CO3^{2-}(aq) } && K_\mathrm{a2} \end{aligned} Expresse a composição da solução em termos da fração, xXx_\ce{X}, de cada espécie X\ce{X} presente, em que X\ce{X} pode ser HX2COX3\ce{H2CO3}, HCOX3X\ce{HCO3^-} ou COX3X2\ce{CO3^{2-}} e xX=[X][HX2COX3]+[HCOX3X]+[COX3X2] x_{\ce{X}} = \dfrac{ \ce{[X]} }{ \ce{[H2CO3]} + \ce{[HCO3^-]} + \ce{[CO3^{2-}]} } Será útil expressar xXx_{\ce{X}} em termos da razão entre cada espécie e a espécie intermediária [HCOX3X]\ce{[HCO3^-]}. Por isso, divida o numerador e o denominador por [HCOX3X]\ce{[HCO3^-]} para obter xX=[X][HCOX3X][HX2COX3][HCOX3X]+1+[COX3X2][HCOX3X] x_{\ce{X}} = \dfrac{ \dfrac{\ce{[X]}}{\ce{[HCO3^-]}} }{ \dfrac{\ce{[H2CO3]}}{\ce{[HCO3^-]}} + 1 + \dfrac{\ce{[CO3^{2-}]}}{\ce{[HCO3^-]}} } As três razões de concentrações podem ser escritas em termos da concentração do íon hidrônio. Para isso, simplesmente rearranje a expressão para a primeira e a segunda constante de acidez: [HX2COX3][HCOX3X]=[HX3OX+]Ka1[COX3X2][HCOX3X]=Ka2[HX3OX+] \dfrac{\ce{[H2CO3]}}{\ce{[HCO3^-]}} = \dfrac{\ce{[H3O^+]}}{K_\mathrm{a1}} \qquad \dfrac{\ce{[CO3^{2-}]}}{\ce{[HCO3^-]}} = \dfrac{K_\mathrm{a2}}{\ce{[H3O^+]}} substituindo na expressão de xXx_{\ce{X}} e rearranjando para obter: xHX2COX3=[HX3OX+]2[HX3OX+]2+[HX3OX+]Ka1+Ka1Ka2xHCOX3X=[HX3OX+]Ka1[HX3OX+]2+[HX3OX+]Ka1+Ka1Ka2xCOX3X2=Ka1Ka2[HX3OX+]2+[HX3OX+]Ka1+Ka1Ka2 \begin{aligned} x_{\ce{H2CO3}} &= \dfrac{ \ce{[H3O^+]}^2 }{ \ce{[H3O^+]}^2 + \ce{[H3O^+]} K_\mathrm{a1} + K_\mathrm{a1} K_\mathrm{a2} } \\ x_{\ce{HCO3^-}} &= \dfrac{ \ce{[H3O^+]} K_\mathrm{a1} }{ \ce{[H3O^+]}^2 + \ce{[H3O^+]} K_\mathrm{a1} + K_\mathrm{a1} K_\mathrm{a2} } \\ x_{\ce{CO3^{2-}}} &= \dfrac{ K_\mathrm{a1} K_\mathrm{a2} }{ \ce{[H3O^+]}^2 + \ce{[H3O^+]} K_\mathrm{a1} + K_\mathrm{a1} K_\mathrm{a2} } \end{aligned}

A expressão obtida fornece as frações, xx, das espécies em uma solução de ácido carbônico. Elas podem ser generalizadas para qualquer ácido diprótico HX2A\ce{H2A}: xHX2A=[HX3OX+]2HxHAX=[HX3OX+]Ka1HxAX2=Ka1Ka2H x_{\ce{H2A}} = \dfrac{ \ce{[H3O^+]}^2 }{ H } \qquad x_{\ce{HA^-}} = \dfrac{ \ce{[H3O^+]} K_\mathrm{a1} }{ H } \qquad x_{\ce{A^{2-}}} = \dfrac{ K_\mathrm{a1} K_\mathrm{a2} }{ H } em que: H=[HX3OX+]2+[HX3OX+]Ka1+Ka1Ka2 H =\ce{[H3O^+]}^2 + \ce{[H3O^+]} K_\mathrm{a1} + K_\mathrm{a1} K_\mathrm{a2}

O que esta equação revela?
  • Em pH elevado, a concentração de íons hidrônio é muito baixa e, portanto, os numeradores em xHX2Ax_{\ce{H2A}} e xHAXx_{\ce{HA^-}} são muito pequenos, logo essas espécies estão em abundância muito baixa, como esperado.
  • Quando o pH é baixo, a concentração de íons hidrônio é alta e, portanto, o numerador em xHX2Ax_{\ce{H2A}} é grande e essa espécie predomina.
  • A expressão é simétrica, e pode ser generalizada para ácidos polipróticos com mais de dois hidrogênios ionizáveis.

A forma das curvas previstas pela Equação 2 são mostradas para HX2COX3\ce{H2CO3} na Fig. 3H.3.1. Você pode perceber que xHCOX3X1x_{\ce{HCO3^-}} \approx 1 em pH intermediário. O valor máximo de xHCOX3Xx_{\ce{HCO3^-}} ocorre em pH=pKa1+pKa22 \mathrm{pH} = \dfrac{ \mathrm{p}K_\mathrm{a1} + \mathrm{p}K_\mathrm{a2} }{2} Esse é o valor de pH estimado para uma solução de HCOX3X.\ce{HCO3^-}. É esperado que, esse caso, a concentração do íon HCOX3X\ce{HCO3^-} seja máxima.

A variação da composição fracionária das espécies do ácido carbônico em função do pH. Observe que as espécies totalmente protonadas predominam em pH baixo e que as mais desprotonadas predominam em pH alto.
Figura 3H.3.1

Observe que a forma totalmente protonada (HX2COX3\ce{H2CO3}) predomina quando pH<pKa1\mathrm{pH} < \mathrm{p}K_\mathrm{a1} e a forma totalmente desprotonada (COX3X2\ce{CO3^{2-}}), quando pH>pKa1\mathrm{pH} > \mathrm{p}K_\mathrm{a1}. Cálculos semelhantes podem ser feitos para sais de ácidos tripróticos em água (Fig. 3H.3.2).

A variação da composição fracionária das espécies do ácido fosfórico em função do pH. Como na Figura 1, quanto mais totalmente protonada a espécie, menor o pH na qual ela é predominante.
Figura 3H.3.2

A fração de espécies desprotonadas aumenta quando o pH aumenta.