No início do século XX, a expectativa da eclosão da Primeira Guerra Mundial gerou uma desesperada busca por compostos de nitrogênio. Eventualmente, o químico alemão Fritz Haber, em colaboração com o engenheiro químico de mesma nacionalidade Carl Bosch, encontrou uma forma econômica de utilizar o nitrogênio do ar. Haber aqueceu nitrogênio e hidrogênio sob pressão na presença de ferro: NX2(g)+3HX2(g)Fe2NHX3(g) \ce{ N2(g) + 3 H2(g) <=>[Fe] 2 NH3(g) } O metal atua como um catalisador, uma substância que ajuda a reação a ocorrer mais rapidamente.

A reação avança até o equilíbrio, normalmente com uma concentração muito baixa de amônia. Haber buscava maneiras de aumentar a quantidade de produto formada valendo-se do fato de que, como os equilíbrios químicos são dinâmicos, eles respondem a mudanças nas condições da reação.

A adição e remoção de reagentes

É possível predizer como a composição de uma reação em equilíbrio tende a mudar quando as condições se alteram usando o princípio identificado pelo químico francês Henri Le Chatelier:

  • Princípio de Le Chatelier: Quando uma perturbação é aplicada em um sistema em equilíbrio dinâmico, ele tende a se ajustar para reduzir ao mínimo o efeito da perturbação.

Esse princípio empírico (baseado em observações), no entanto, não é mais do que uma regra prática. Ele não dá uma explicação formal nem permite predições quantitativas. Entretanto, com o desenvolvimento do tópico, você entenderá as explicações cinéticas e termodinâmicas subjacentes e as conclusões quantitativas poderosas que podem ser deduzidas.

Imaginemos que a reação de síntese da amônia, reação A, atingiu o equilíbrio. Agora suponha que uma quantidade adicional de gás hidrogênio é bombeada para o sistema. De acordo com o princípio de Le Chatelier, a reação tenderá a reduzir ao mínimo o efeito do aumento no número de moléculas de hidrogênio através da reação do hidrogênio com o nitrogênio. Como resultado, forma-se mais amônia. Se, em vez de hidrogênio, tivéssemos adicionado amônia, a reação tenderia a formar reagentes devido à amônia adicionada (Fig. 3F.3.1).

Estes gráficos mostram as variações de composição que podem ser esperadas quando excesso de hidrogênio e, depois, amônia, são adicionados a uma mistura de nitrogênio, hidrogênio e amônia em equilíbrio. Observe que a adição de hidrogênio resulta na formação de amônia, enquanto a adição de amônia leva à decomposição de um pouco da amônia adicionada.
Figura 3F.3.1

A resposta de um sistema em equilíbrio após a adição ou remoção de uma substância pode ser explicada considerando-se as magnitudes relativas de QQ e KK. Quando são adicionados reagentes ou produtos, apenas QQ varia, enquanto KK, uma característica da reação, mantém-se constante. No equilíbrio, Q=KQ = K e, portanto, o valor de QQ é afetado. Ele sempre tenderá a ser igual a KK porque esta direção da mudança corresponde a uma redução na energia livre de Gibbs.

  • Quando reagentes são adicionados à mistura no equilíbrio, as concentrações dos reagentes no denominador de QQ aumentam e, por isso, QQ fica menor do que KK, temporariamente. Como Q<KQ < K, a mistura de reação responde formando produtos e consumindo reagentes até Q=KQ = K outra vez. Isto é, quando reagentes são adicionados a um sistema em equilíbrio, ele reage convertendo reagentes em produtos.
  • Quando produtos são adicionados à mistura em equilíbrio, QQ fica temporariamente maior do que KK, porque os produtos aparecem no numerador. Agora, como Q>KQ > K, a mistura de reação responde formando reagentes à custa dos produtos, até Q=KQ = K outra vez. Isto é, quando produtos são adicionados ao sistema no equilíbrio, ele reage convertendo produtos em reagentes.
Exemplo 3F.3.1
Predição do efeito da adição ou remoção de reagentes e produtos

Considere a reação de produção de óxido nítrico 4NHX3(g)+5OX2(g)4NO(g)+6HX2O(g) \ce{ 4 NH3(g) + 5 O2(g) <=> 4 NO(g) + 6 H2O(g) }

Avalie o efeito sobre a composição do equilíbrio das ações.

  1. Remoção de NO\ce{NO}.
  2. Adição de NHX3\ce{NH3}.
  3. Adição de HX2O\ce{H2O}.
Etapa 2. Considere como cada alteração afetará o valor de QQ e que mudança é necessária para restabelecer o equilíbrio.
  1. A remoção de NO\ce{NO} da mistura em equilíbrio reduz QQ abaixo de KK, logo a reação se ajusta enquanto uma quantidade adicional de produtos é formada à custa dos reagentes.
  2. Quando NHX3\ce{NH3} é adicionado ao sistema em equilíbrio, QQ cai abaixo de KK, e, novamente, o equilíbrio se ajusta e produtos são formados à custa dos reagentes.
  3. A adição de HX2O\ce{H2O} eleva QQ acima de KK, com formação de reagentes à custa dos produtos.

O princípio de Le Chatelier sugere um bom caminho para assegurar que a reação continue gerando uma dada substância: basta remover os produtos assim que eles se formam. Na procura do equilíbrio, a reação avança na direção que gera mais produtos. Por essa razão, os processos industriais raramente atingem o equilíbrio. Na síntese comercial da amônia, por exemplo, a amônia é removida continuamente fazendo-se circular a mistura em equilíbrio por uma unidade de refrigeração na qual somente a amônia condensa. Portanto, o nitrogênio e o hidrogênio continuam a reagir para formar uma quantidade adicional de produto.

Exemplo 3F.3.2
Cálculo da composição no equilíbrio após a adição de um reagente

Em um balão de 500 mL\pu{500 mL}, reação PClX5(g)PClX3(g)+ClX2(g) \ce{ PCl5(g) <=> PCl3(g) + Cl2(g) } atingiu o equilíbrio em 250 °C\pu{250 \degree C}. As pressões parciais dos componentes no equilíbrio são PPClX5=0,02 barP_{\ce{PCl5}} = \pu{0,02 bar}, PPClX3=1,28 barP_{\ce{PCl3}} = \pu{1,28 bar} e PClX2=1,28 barP_{\ce{Cl2}} = \pu{1,28 bar}. Foram adicionados 0,01 mol\pu{0,01 mol} de ClX2\ce{Cl2} à mistura no equilíbrio, então, o sistema entra em equilíbrio novamente.

Calcule a pressão parcial de PClX5\ce{PCl5} no equilíbrio.

Etapa 2. Calcule o aumento de pressão parcial de cloro.

De PV=nRTPV = nRT ΔPClX2=(0,01 mol)×(0,083 barLmolL)×(523 K)(0,5 L)=0,87 bar \begin{aligned} \Delta P_{\ce{Cl2}} &= \dfrac{ (\pu{0,01 mol}) \times (\pu{0,083 bar.L//mol.L}) \times (\pu{523 K}) }{ (\pu{0,5 L}) } &= \pu{0,87 bar} \end{aligned} A pressão parcial total de cloro imediatamente após a adição do gás cloro é, portanto, PClX2,inıˊcio=1,28 bar+0,870 bar=2,15 bar P_{\ce{Cl2}, \text{início}} = \pu{1,28 bar} + \pu{0,870 bar} = \pu{2,15 bar}

Etapa 3. Escreva a expressão da constante de equilíbrio

PClX3(g)+ClX2(g)PClX5(g)K=PPClX5PPClX3PClX2 \ce{ PCl3(g) + Cl2(g) <=> PCl5(g) } \quad K = \dfrac{ P_{\ce{PCl5}} }{ P_{\ce{PCl3}} P_{\ce{Cl2}} }

Etapa 4. Calcule a constante de equilíbrio

De K=PPClX5/PPClX3PClX2K = P_{\ce{PCl5}} / P_{\ce{PCl3}} P_{\ce{Cl2}} K=(0,02)(1,28)×(1,28)=0,012 K = \dfrac{ (\pu{0,02}) }{ (\pu{1,28}) \times (\pu{1,28}) } = \pu{0,012}

Etapa 5. Elabore uma tabela de equilíbrio.
PClX3\ce{PCl3}ClX2\ce{Cl2}PClX5\ce{PCl5}
início1,28\pu{1,28}2,15\pu{2,15}0,02\pu{0,02}
reaçãox-xx-x+x+x
equilíbrio1,28x\pu{1,28} - x2,15x\pu{2,15} - x0,02+x\pu{0,02} + x
Etapa 6. Insira os valores da tabela na expressão da constante de equilíbrio.

K=0,012=(0,02+x)(1,28x)×(2,15x) K = \pu{0,012} = \dfrac{ (\pu{0,02} + x) }{ (\pu{1,28} - x) \times (\pu{2,15} - x) } Resolvendo a equação do segundo grau para xx obtemos x=0,014 ou x=81 x = \pu{0,014} \text{ ou } x = \pu{81} Como as pressões parciais têm de ser positivas, selecione x=0,014x = \pu{0,014} como a solução.

Etapa 7. Calcule a pressão parcial de PClX5\ce{PCl5} no equilíbrio.

De PPClX5=0,02+xP_{\ce{PCl5}} = \pu{0,02} + x PPClX5=0,034 bar P_{\ce{PCl5}} = \fancyboxed{ \pu{0,034 bar} }

Ponto para pensar

Suponha que um dos produtos de uma reação que está em equilíbrio seja um sólido puro. Como o equilíbrio será afetado se um pouco do sólido for removido? E se todo o sólido for removido?

Quando a composição de equilíbrio é perturbada pela adição ou remoção de um reagente ou produto, a reação tende a ocorrer na direção que faz com que o valor de QQ torne‑se novamente igual a KK.

A compressão de uma mistura de reação

Um equilíbrio em fase gás responde à compressão a redução de volume — do recipiente da reação. De acordo com o princípio de Le Chatelier, a composição tende a mudar para reduzir ao mínimo o efeito do aumento da pressão. Por exemplo, na dissociação de IX2\ce{I2} para formar átomos de I\ce{I}, IX2(g)2I(g) \ce{ I2(g) <=> 2 I(g) } 1 mol\pu{1 mol} de moléculas do reagente na fase gás produz 2 mols\pu{2 mols} de produto na fase gás. A reação direta aumenta o número de partículas do recipiente e também a pressão total do sistema, e a reação inversa diminui a pressão. Logo, quando a mistura é comprimida, a composição de equilíbrio tende a se deslocar na direção do reagente, IX2\ce{I2}, porque isso reduz ao mínimo o efeito do aumento da pressão. A expansão provoca a resposta contrária, isto é, favorece a dissociação de IX2\ce{I2} em átomos livres. Na formação da amônia, reação A, 2 mols\pu{2 mols} de moléculas de gás são produzidos a partir de 4 mols\pu{4 mols} de moléculas de gás. Haber compreendeu que, para aumentar o rendimento da amônia, seria preciso conduzir a síntese com gases fortemente comprimidos. O processo industrial utiliza pressões de 250 atm\pu{250 atm} ou mais.

O efeito da compressão sobre uma mistura em equilíbrio pode ser explicado mostrando que a compressão de um sistema altera os valores de pressão parcial na expressão de KK, ainda que KK não se altere.

Demonstração 3F.3.1
Como isso é feito?

Suponha que você queira descobrir o efeito da compressão sobre o equilíbrio 2NOX2(g)NX2OX4(g) \ce{ 2 NO2(g) <=> N2O4(g) } Escreva a constante de equilíbrio na forma completa (para termos cuidado com as unidades) como: K=(PNX2OX4/P)(PNOX2/P)2 K = \dfrac{ (P_{\ce{N2O4}}/P^\circ) }{ (P_{\ce{NO2}}/P^\circ)^2 } A seguir, como o foco deve ser o volume do sistema, considere que a compressão expressa KK em termos do volume escrevendo PJ=nJRT/VP_{\ce{J}} = n_{\ce{J}} RT/V para cada substância. K=(nNX2OX4RT/VP)(nNOX2RT/VP)2=nNX2OX4(nNOX2)2×PRT×V K = \dfrac{ (n_{\ce{N2O4}}RT/VP^\circ) }{ (n_{\ce{NO2}}RT/VP^\circ)^2 } = \dfrac{ n_{\ce{N2O4}} }{ (n_{\ce{NO2}})^2 } \times \dfrac{ P^\circ }{ RT } \times V Como P/RTP^\circ/RT é constante, para que essa expressão permaneça constante quando o volume, VV, do sistema diminui, a razão nNX2OX4/(nNOX2)2n_{\ce{N2O4}}/(n_{\ce{NO2}})^2 deve aumentar. Isto é, a quantidade de NOX2\ce{NO2} deve diminuir e a quantidade de NX2OX4\ce{N2O4} deve aumentar. Portanto, quando o volume do sistema diminui, o equilíbrio muda na direção do menor número total de moléculas na fase gás. Quando o sistema se expande, uma quantidade adicional de NOX2\ce{NO2} seria produzida, e o equilíbrio se deslocaria na direção de um número total maior de moléculas do gás.

Exemplo 3F.3.3
Predição do efeito da compressão sobre o equilíbrio

Avalie o efeito da compressão na composição do equilíbrio para as reações.

  1. 2NOX2(g)NX2OX4(g)\ce{ 2 NO2(g) <=> N2O4(g) }
  2. NX2(g)+OX2(g)2NO(g)\ce{ N2(g) + O2(g) <=> 2 NO(g) }
  3. CHX4(g)+HX2O(g)CO(g)+3HX2(g)\ce{ CH4(g) + H2O(g) <=> CO(g) + 3 H2(g) }
  4. COX2(g)+HX2O(l)HX2COX3(aq)\ce{ CO2(g) + H2O(l) <=> H2CO3(aq) }
Etapa 2. Identifique o sentido em que há diminuição na quantidade de gás.
  1. Os produtos são favorecidos.
  2. Não há efeito.
  3. Os reagentes são favorecidos.
  4. Os produtos são favorecidos.
Atenção

Suponha que a pressão interna total no vaso de reação fosse aumentada bombeando argônio ou outro gás inerte, em volume constante. Como os gases que reagem continuariam ocupando o mesmo volume, suas concentrações molares e suas pressões parciais permaneceriam inalteradas, apesar da presença de um gás inerte. Nesse caso, portanto, ainda que os gases possam ser considerados ideais, a composição de equilíbrio não é afetada, embora a pressão total tenha aumentado.

A compressão de uma mistura de reação em equilíbrio tende a deslocar a reação na direção que reduz o número de moléculas em fase gás. O aumento da pressão pela introdução de um gás inerte não afeta a composição em equilíbrio.

O equilíbrio e a temperatura

A constante de equilíbrio de uma reação depende da temperatura. Duas observações experimentais resumem esta dependência. Sabe-se que, para reações exotérmicas (que liberam calor), quando a temperatura é aumentada a composição da mistura em equilíbrio é deslocada em favor dos reagentes (KK diminui) e que o oposto ocorre em reações endotérmicas (que absorvem calor, KK aumenta).

O princípio de Le Chatelier está de acordo com essas observações. Como a composição favorece os reagentes em uma reação exotérmica, a quantidade de calor liberada é menor, o que pode ser visto como fator que contrabalança o aumento da temperatura. Da mesma forma, como a composição se desloca para os produtos em uma reação endotérmica, a quantidade de calor absorvido é maior, o que ajuda a compensar o aumento da temperatura.

Um exemplo é a decomposição dos carbonatos. Uma reação como CaCOX3(s)CaO(s)+COX2(g) \ce{ CaCO3(s) -> CaO(s) + CO2(g) } é fortemente endotérmica, e a pressão parcial de dióxido de carbono só é apreciável no equilíbrio se a temperatura for alta. Por exemplo, em 800 °C\pu{800 \degree C}, a pressão parcial é 0,22 atm\pu{0,22 atm} no equilíbrio. Se o aquecimento ocorre em um recipiente aberto, essa pressão parcial nunca é atingida, porque o equilíbrio nunca é atingido. O gás se dispersa e o carbonato de cálcio decompõe-se completamente, deixando um resíduo sólido de CaO\ce{CaO}. Entretanto, se o ambiente já for rico em dióxido de carbono, com a pressão parcial acima de 0,22 atm\pu{0,22 atm}, então não ocorre decomposição: para cada molécula de COX2\ce{CO2} que se forma, outra é reconvertida a carbonato. Esse processo dinâmico é, provavelmente, o que acontece na superfície de Vênus, onde a pressão parcial do dióxido de carbono fica em torno de 87atm\ce{87 atm}. Essa alta pressão levou à especulação de que a superfície do planeta é rica em carbonatos, apesar da alta temperatura (em torno de 500 °C\pu{500 \degree C}).

Exemplo 3F.3.4
Predição do efeito da temperatura sobre o equilíbrio

Avalie como se comporta a composição de equilíbrio na síntese do trióxido de enxofre 2SOX2(g)+OX2(g)VX2OX52SOX3(g) \ce{ 2 SO2(g) + O2(g) <=>[V2O5] 2 SO3(g) } quando a temperatura aumenta.

  • ΔHf(SOX2)=297 kJmol\Delta H_{\mathrm{f}}^\circ(\ce{SO2}) = \pu{-297 kJ//mol}
  • ΔHf(SOX3)=296 kJmol\Delta H_{\mathrm{f}}^\circ(\ce{SO3}) = \pu{-296 kJ//mol}
Etapa 2. Calcule a entalpia padrão de reação.

De ΔHr=produtosnΔHfreagentesnΔHf\Delta H_\mathrm{r}^\circ = \sum_\text{produtos} n \Delta H^\circ_\mathrm{f} - \sum_\text{reagentes} n \Delta H^\circ_\mathrm{f} ΔHr=2ΔHf,SOX3(g)2ΔHf,SOX2(g) \Delta H_\mathrm{r}^\circ = 2 \Delta H^\circ_{\mathrm{f}, \ce{SO3(g)}} - 2 \Delta H^\circ_{\mathrm{f}, \ce{SO2(g)}} logo, ΔHr={2(396)2(297)}kJmol=198 kJmol1 \Delta H_\mathrm{r}^\circ = \Big\{ 2 (\pu{-396}) - 2 (\pu{-297}) \Big\}\,\pu{kJ//mol} = \pu{-198 kJ.mol-1} Como a formação de SOX3\ce{SO3} é exotérmica, o aumento da temperatura da mistura no equilíbrio favorece a decomposição de SOX3\ce{SO3} em SOX2\ce{SO2} e OX2\ce{O2}. Em consequência, as pressões do SOX2\ce{SO2} e do OX2\ce{O2} vão aumentar e a do SOX3\ce{SO3} vai diminuir.

O efeito da temperatura na composição de equilíbrio é uma consequência da dependência da constante de equilíbrio com a temperatura.

Demonstração 3F.3.2
Como isso é feito?

As relações entre a constante de equilíbrio e a energia livre de Gibbs é ΔGr=RTlnK \Delta G_\mathrm{r}^\circ = -RT \ln K Introduzimos a definição de ΔGr\Delta G_\mathrm{r}^\circ em termos de ΔHr\Delta H_\mathrm{r}^\circ e ΔSr\Delta S_\mathrm{r}^\circ: ΔGr=ΔHrTΔSr \Delta G_\mathrm{r}^\circ = \Delta H_\mathrm{r}^\circ - T \Delta S_\mathrm{r}^\circ para dar lnK=ΔSrRΔHrRT \ln K = \dfrac{ \Delta S_\mathrm{r}^\circ }{ R } - \dfrac{ \Delta H_\mathrm{r}^\circ }{ R T } As constantes de equilíbrio K1K_1 e K2K_2 em duas temperaturas T1T_1 e T2T_2 são Em T1:lnK1=ΔSrRΔHrRT1Em T2:lnK2=ΔSrRΔHrRT2 \begin{aligned} \text{Em $T_1$:} \quad \ln K_1 &= \dfrac{ \Delta S_\mathrm{r}^\circ }{ R } - \dfrac{ \Delta H_\mathrm{r}^\circ }{ R T_1 } \\ \text{Em $T_2$:} \quad \ln K_2 &= \dfrac{ \Delta S_\mathrm{r}^\circ }{ R } - \dfrac{ \Delta H_\mathrm{r}^\circ }{ R T_2 } \end{aligned} É razoável considerar ΔHr\Delta H_\mathrm{r}^\circ e ΔSr\Delta S_\mathrm{r}^\circ aproximadamente independentes da temperatura na faixa de interesse. Quando essa aproximação é feita, podemos eliminar ΔSr/R\Delta S_\mathrm{r}^\circ/R subtraindo a primeira equação da segunda: lnK2lnK1ln(K2/K1)=ΔHrR(1T21T1) \overbrace{ \ln K_2 - \ln K_1 }^{ \ln (K_2/K_1) } = -\dfrac{ \Delta H^\circ_\mathrm{r} }{ R } \left( \dfrac{1}{T_2} - \dfrac{1}{T_1} \right)

A expressão que acabamos de demonstrar é uma versão quantitativa do princípio de Le Chatelier para o efeito da temperatura. Normalmente ela é rearranjada na equação de van’t Hoff: ln(K2K1)=ΔHrR(1T21T1) \fancyboxed{ \ln \left( \dfrac{K_2}{K_1} \right) = -\dfrac{ \Delta H^\circ_\mathrm{r} }{ R } \left( \dfrac{1}{T_2} - \dfrac{1}{T_1} \right) } Nesta expressão, K1K_1 é a constante de equilíbrio na temperatura T1T_1, e K2K_2 é a constante de equilíbrio em T2T_2.

Exemplo 3F.3.5
Cálculo da constante de equilíbrio em diferentes temperaturas

Em 298 K\pu{298 K}, a reação NX2(g)+3HX2(g)2NHX3(g) \ce{ N2(g) + 3 H2(g) <=> 2 NH3(g) } tem entalpia 90 kJmol1\pu{-90 kJ.mol-1} e constante de equilíbrio 7105\pu{7e5}.

Calcule o valor da constante de equilíbrio em 400 K\pu{400 K}.

Etapa 2. Use a equação de van’t Hoff.

De ln(K2K1)=ΔHrR(1T21T1)\ln \left( \frac{K_2}{K_1} \right) = -\frac{ \Delta H^\circ_\mathrm{r} }{ R } \left( \frac{1}{T_2} - \frac{1}{T_1} \right) ln(K2K1)=(90103 Jmol)8,3 JKmol(1298 K1400 K)=9,5 \begin{aligned} \ln \left( \dfrac{K_2}{K_1} \right) &= -\dfrac{ (\pu{-90e3 J//mol}) }{ \pu{8,3 J//K.mol} } \left( \dfrac{1}{ \pu{298 K} } - \dfrac{1}{ \pu{400 K} } \right) \\ &= \pu{-9,5} \end{aligned} logo, K2=(7105)×e9,5=50 K_2 = (\pu{7e5}) \times e^{-9,5} = \fancyboxed{ 50 }

Atenção

Quando se usa a equação de van’t Hoff para reações na fase gás, a constante de equilíbrio deve ser KK, não KcK_c. Se você precisa de um novo valor de KcK_c para uma reação em fase gás, você precisa converter KcK_c em KK na temperatura inicial. Depois, use a equação de van’t Hoff para calcular o valor de KK na nova temperatura e, finalmente, converta KK em KcK_c usando o novo valor de KcK_c, na nova temperatura.

O aumento da temperatura de uma reação exotérmica reduz o valor de KK. O aumento da temperatura de uma reação endotérmica eleva o valor de KK. A equação de van’t Hoff expressa esse efeito de forma quantitativa.