A osmose é o fluxo de solvente através de uma membrana para uma solução mais concentrada. O fenômeno pode ser demonstrado em laboratório separando-se uma solução e o solvente puro com uma membrana semipermeável, uma membrana que só permite a passagem de certos tipos de moléculas ou íons (Fig. 3E.2.1). O acetato de celulose, por exemplo, permite a passagem de moléculas de água, mas não a de moléculas de soluto ou íons com camadas de moléculas de água de hidratação volumosas. Inicialmente, as alturas da solução e do solvente puro são as mesmas. Porém, o nível da solução que está dentro do tubo começa a subir com a passagem de solvente puro pela membrana para a solução. No equilíbrio, a pressão exercida pela coluna de solução é suficientemente grande para que o fluxo de moléculas através da membrana seja o mesmo nas duas direções, tornando zero o fluxo total.

Uma experiência para ilustrar a osmose. Inicialmente, a solução à esquerda continha uma solução de sacarose e a solução à direita, água pura; a altura inicial dos dois líquidos era a mesma. Na etapa mostrada aqui, a água passou para a solução, através da membrana, por osmose, e o nível de solução à esquerda subiu acima do nível da água pura.
Figura 3E.2.1

A pressão osmótica

A pressão necessária para deter o fluxo de solvente é chamada de pressão osmótica, Π\Pi. Quanto maior for a pressão osmótica, maior será a altura da solução necessária para reduzir o fluxo a zero.

  • Quando o fluxo líquido for zero, as soluções são chamadas de isotônicas (têm a mesma pressão osmótica).

A origem termodinâmica da osmose é que o solvente tende a fluir através de uma membrana até a energia livre de Gibbs do solvente ficar igual nos dois lados. Um soluto reduz a energia livre de Gibbs molar da solução, que fica abaixo da energia livre molar do solvente puro (aumentando a entropia), e o solvente, assim, tem tendência a passar para a solução. A pressão osmótica de uma solução de não eletrólito está relacionada com a molaridade, cc, do soluto na solução: Π=cRT \fancyboxed{\Pi = c RT} em que ii é o fator de van’t Hoff, RR é a constante dos gases e TT é a temperatura.

O que esta equação revela?
  • A pressão osmótica depende somente da temperatura e da concentração molar total do soluto.
  • Ela não depende das identidades do soluto e do solvente.
  • A altura da coluna de solvente depende do solvente, porque depende de sua densidade.

A vida depende da osmose. As paredes das células biológicas agem como membranas semipermeáveis que permitem a passagem de água, de moléculas pequenas e de íons hidratados. Elas bloqueiam, porém, a passagem de enzimas e proteínas que foram sintetizadas dentro da célula. A diferença das concentrações de soluto dentro e fora de uma célula dá origem a uma pressão osmótica, e a água passa para a solução mais concentrada no interior da célula, levando moléculas pequenas de nutrientes. Esse influxo de água também mantém a célula túrgida (inchada). Quando a provisão de água é cortada, a turgidez se perde e a célula fica desidratada. Em uma planta, essa desidratação se manifesta como murchidão. A carne salgada é preservada do ataque bacteriano pela osmose. Neste caso, a solução concentrada de sal desidrata — e mata — as bactérias, fazendo a água fluir para fora delas. A pressão osmótica é um fator importante nos projetos de sistemas de administração de fármacos que funcionam automaticamente segundo as necessidades do organismo.

Exemplo 3E.2.1
Cálculo da pressão osmótica

Considere uma solução 0,01 molL1\pu{0,01 mol.L-1} de KCl\ce{KCl} em 30 °C\pu{30 \degree C}.

Calcule a pressão osmótica da solução.

Etapa 2. Determine o fator ii.

Como cada célula unitária de KCl\ce{KCl} se dissocia em dois íons em solução (um KX+\ce{K^+} e um ClX\ce{Cl^-}) o fator ii é igual a 22, supondo dissociação completa.

Etapa 3. Use a equação van’t Hoff para a pressão osmótica.

De Π=icRT\Pi = i c RT Π=2×(0,082 atmLmolK)×(303 K)×(0,01 molL)=0,5 atm \Pi = 2 \times (\pu{0,082 atm.L//mol.K}) \times (\pu{303 K}) \times (\pu{0,01 mol//L}) = \fancyboxed{ \pu{0,5 atm} }

A pressão osmótica é dada por Π=cRT.\Pi = c RT.

A osmometria

A massa molar de um soluto pode ser determinada a partir de medidas da pressão osmótica. Esta técnica, chamada de osmometria, é muito sensível, até mesmo em baixas concentrações, e é comumente usada na determinação de massas molares muito grandes, como as de polímeros e proteínas.

Exemplo 3E.2.2
Cálculo da massa molar por osmometria

A pressão osmótica devido a 2,2 g\pu{2,2 g} de polietileno dissolvido em benzeno necessário para produzir 100 mL\pu{100 mL} de solução foi 1,1102 atm\pu{1,1e-2 atm} em 25 °C\pu{25 \degree C}.

Calcule a massa molar média do polímero.

Etapa 2. Calcule a concentração molar do soluto.

De Π=iRTc\Pi = i RT c, com i=1i = 1 c=1,1102 atm(0,082 atmLmolK)×(298 K)=4,5104 M c = \dfrac{ \pu{1,1e-2 atm} }{ (\pu{0,082 atm.L//mol.K}) \times (\pu{298 K}) } = \pu{4,5e-4 M}

Etapa 3. Calcule a quantidade de soluto na amostra.

De c=n/Vc = n/V n=(4,5104 molL)×(0,1 L)=4,5105 mol n = (\pu{4,5e-4 mol//L}) \times (\pu{0,1 L}) = \pu{4,5e-5 mol}

Etapa 4. Calcule a massa molar do soluto.

De M=n/mM = n/m MPE=2,2 g4,5105 mol=4,9 kgmol1 M_{\ce{PE}} = \dfrac{ \pu{2,2 g} }{ \pu{4,5e-5 mol} } = \fancyboxed{ \pu{4,9 kg.mol-1} }

A osmometria é usada para determinar massas molares.

A osmose reversa

Na osmose reversa, uma pressão maior do que a pressão osmótica é aplicada no lado da solução da membrana semipermeável. A aplicação de pressão aumenta a velocidade com que as moléculas de solvente deixam a solução e, assim, inverte o fluxo de solvente, forçando as moléculas do solvente a fluírem da solução para o solvente puro. A osmose reversa é usada para remover sais da água do mar e produzir água potável e para a irrigação. A água é quase literalmente empurrada para fora da solução salgada através da membrana. O desafio tecnológico é fabricar novas membranas que sejam fortes o bastante para resistir a pressões altas e que não entupam facilmente. As indústrias usam membranas de acetato de celulose em pressões de até 70 atm\pu{70 atm}.

A osmose reversa é usada na purificação de água.